quarta-feira, 16 de setembro de 2009

CANTO DA PARTIDA








...ai daqueles que chegado já não chega
diz Cecília da sombra do que é
algum fantasma sem projeto
que da noite escura inda insepulto
faz de todo instante
razão de esquecimento
...ai daquele que em longínquas cenas
desconhece o homem que já foi
para entregar-se decidido
ao real e impossível
sintoma e desejo nessa ordem
de que é sombra
de vislumbrar apenas paz
...ai daquele tão sereno ser
que da vida fez memória
e conscientemente se divide
entre existir e já não ser
...ai daquele feliz no seu presente
que passa seu compasso
e traça o círculo onde se cala
como fonte que encerrasse
o fluxo d'água doce em que viveu
...ai daquele
não será compreendido nem amado
e partirá sozinho com seu fado

Rio de Janeiro, setembro de 2009




segunda-feira, 14 de setembro de 2009

SEM IDÉIA







[exercício sobre um tema camoniano]



se amador e cousa amada
um em outro se transformam
seremos um sem jamais nos separar

lembrada repetida sentida arrebatada
a cousa amada
nada mais pretende transformar
e nos meus beijos toma forma
em pensamento como idéia
alma em alma se conforma

Rio de Janeiro, setembro de 2009





domingo, 13 de setembro de 2009

MIYUKO HATOYAMA






há sóis como o poema
prismas na projeção do infinito

há sóis onde a alegria se aquece
como amor em dois minutos
[e nunca é muito]

há sóis que o calor não conhecem
sóis circulares
que o silêncio emudecem

sóis há
sóis para secar a roupa em varais
em tão distantes quintais

sóis da velhice sóis da infância
sóis infinitezimais
sóis da alegria e do amor
sóis do silêncio
sóis que sempre foram sal
sal do alimento



Rio de Janeiro, setembro de 2009.





sábado, 12 de setembro de 2009

[em construção]













editar é amar sem querer
os poemas postados hoje
em livro que não lerei
corto aqui troco palavras
crio recrio
odeio o que há por fazer


metáforas metástases
paráfrases metonímias
meto-me a frasear
metalinguagem
no drama de me acabar



moleque de recados
ouço palpites de todos
traidores como o diabo
corto aqui corto acolá
resta pouco do que senti


nem sei se sou poeta
nem ser poeta sei o que é
sou só eu mesmo e não outro
que escreve aqui como lá



sábado, 5 de setembro de 2009

MEL








que pena não ser Bandeira
para cantar a bebedeira
com a graça matreira
de um menestrel

na minha idade
falar futilidade
voltar à puberdade
não será fiel

e minh' alma lavada
nem será notada
por essa gente malvada
de bordel

melhor ser conservador
pensar no amor
e deitar minha dor
em potes de mel


Rio de Janeiro, 5 de setembro de 2009





sexta-feira, 4 de setembro de 2009

MAR ABERTO





o mar é meu poema
fantasia
ao alcance do olhar

está sempre perto
mar aberto
e é sempre longe
tão longe
que se confunde com céu

perto
longe
tão perto e tão longe
mas seu rumoroso silêncio
no claro do dia claro
é gesto de seu calor sensual




claro
escuro
o mar dá-me certeza
da noite eterna que chega

é isso
não não é isso
não é assim que o vejo
em ondas grisalhas que vêm
e mais depressa se vão

toccata e fuga
sua beleza assim de perto
é certamente um projeto
do eterno
escalas tão longe
tão perto
na incessante busca do eco



Rio de janeiro, 4 de setembro de 2009



NOITE









esta noite sucede um dia
de pura melancolia




Rio de Janeiro, 3 de setembro de 2009




MARINERA






soy un marinero que no sabe navegar
mi vida és una ilusión llena de sueños
por donde todo pasa
y nada fluye
y és asi que no paso yo


Roma, enero de 2006