terça-feira, 28 de junho de 2011

CORAÇÃO CATIVO [trovinha]







mandei buscar meu coração
na palma de sua mão
e só ouvi o vozeirão
não não e não daqui não saio não


Rio, junho de 2011.



AMOR INFINITO



MOTE


‎"Além do infinito eu vou voar sozinho com você..."


[de Ivete Sangalo/Banda Eva 
- Giancarlo Bigazzi / Umberto Tozzi]





GLOSA


do finito ao infinito minha vida é só você
por isso vou voar ao infinito por você...



Obs.: Há jóias da música popular brasileira de encanto poético raro! 


Rio, junho de 2011

segunda-feira, 27 de junho de 2011

LAMÚRIAS DO AMOR





"...não te posso obrigar a amar" [1]
essa é a idéia isso é o que sinto
o que penso e não minto
não me agrada quando o silêncio
de tua voz ensurdece
e não tenho conclusão
sobre se choro ou se finjo
que me falta o coração


"no me gusta cuando callas" [2]
depois que passas e não me vês
calo-me no desprezo
que de mim tem teu desamor
ser ou não ser já não me importa
se o que tenho é indiferença
se o que resta é a própria dor


Rio, junho de 2011.




[1] Fernando Pessoa
[2] Pablo Neruda

INDAGAÇÃO






qual o instinto que me liga a você?
que sentimento indistinto 
tanto maltrata quanto vê
um afeto novo
uma forma de ser
assim em meio ao povo
que não posso esquecer?


Rio, junho de 2011.



SONHO VIVO ou DEPOIS DA PONTE









ah esperança! contigo vivo desde criança
ouço teu canto e sempre me encanto
ah se tu não estivesses comigo
eu não teria nem um amigo


o coração é antigo
tranquilo no sonho vivo
a alma inquieta
com meus cuidados
logo se aquieta


quem sou? sou o mesmo
só a ponte é nova
sobre o risco ido
qual seu sentido?
ser
reaprender a viver




Rio, junho de 2011.



domingo, 26 de junho de 2011

O DEVIR







desponta o sol depois da primeira claridade
gozo o prazer da luz bem antes de sentir-lhe o calor
em pouco abraça-me decidido e viril
e o dom da vida torna a  fazer sentido


canto o momento do abraço em que sou presa
da emoção quase infantil de sentir-me parte
deste céu e desta terra diante da visão de meu eterno mar
hoje renasci para amar


sou a emoção verdadeira
talvez do ressurgir
canto esta canção derradeira de reviver


não sou o erro do passado
nem os sonhos soltos do devir
sou quem sou criatura recriado ser a sentir


Rio, na primeira manhã de meu retorno a casa, depois da cirurgia cardíaca, 26 de junho de 2011.







sexta-feira, 24 de junho de 2011

TEU PRIMEIRO BEIJO





para Maria Luiza, 
minha mulher


suave é viver ao teu lado
acariciado e amado
enquanto ouço distante
o duradouro canto do instante


entre o gosto doce daqui
e a melodia de lá
vivo o gozo de ser eu
a merecer este céu  


amor sempre fui teu
desejei-te antes que soubesses
o bem que em ti amava


o primeiro beijo que me destes
fez doce aquele instante meu
foi  dom que a vida prometeu


Rio, junho de 2011



UM DIÁLOGO. POÉTICO?





nem parecia o fim
[e não era, dizia ela]
talvez com Omeprazol
Antak acabe esse ataque
azia má digestão...


carái como dói
ah! nem tanto vc vive dizendo
que dói aqui ou ali
vai ver e mais uma das suas...
sua mãe morreu aos 90


sim mas era mais santa
e isso conta pontos no final


o fato é que dói
você exagera, toma o Antak e sossega
tao cedo ninguem daqui nao te leva


quem a morte?
ninguem ninguem


nem o amor que conquistei na esquina?
uma mulata sestrosa bundão
deu mole
vou topar de coração


olha que ela leva


que leve e leve logo
pega a mala maior
assim garanto um dia ou dois sem queixumes


aff nem dor posso ter
nao fosse pela Alice ia pra Caxias
e lá ficaria
as aves que aqui gorjeiam não gorjeiam como lá




bem vou caminhar dar um passo
que a garoa me pegue


que garoa?
no Rio tem chuvisco
tem garoa não


bem pego a garota
não me arrisco
escrevi errado faltou um "t"


mas dói vou ao shopping me esbaldar


do shopping pro médico
caminhei sem sofrer
não achei que fosse morrer
até o elevador
daí veio a dor
merda! carái!


rapidin fui atendido contei
longa história
omeprazol antak
sal de frutas ENO
veneno


o xará que era o médico não deu chance
daqui você vai ao exame de imagem
deixa de sacanagem
o tronco esquerdo entupiu


e lá fui... nem à esquina nem a Caxias
direto pro bisturi
resolvida a xarada
duas safenas duas mamárias
e a sestrosa para acarinhar
o tronco


e me levar pra ver povo do Jardim Gramacho
a torcer por "sucessagen"
onde o meia-atacante é o Fabbinn
rubronegro meu anigo
joga também o Alex  e ainda o Rafael 
na zaga o Gabriel e a gurizada toda
que me faz a alegria


passou a dor e a azia...




Rio,  junho de 2011







A safena? Que pena, se foi!




o sono de quem não tem sorte
andou por perto
e eu estava desperto

de repente tudo diferente
é apenas o que sei...
nào...nem foi assim
quando me dei por mim
com toda tranquilidade
fui procurar a verdade

na vida tudo foi sorte 
ou o que a sorte me deu
nunca pensei na morte
mas nos amores meus
e nas coisas guardadas comigo

sim...era isso vieram
à lembrança os amigos
e uma dorzinha esquisita
corri doeu corri
foi tudo que senti

o médico sempre atento
deitou-me e olhou
virou revirou
operou
e lá se foi a mamária
substituir a artéria
de que é a mesma matéria

buscada mais longe a safena...
que pena
o lanho que na perna abriu...

tudo feito
suspeito
que a hora da morte
passou perto e
salvei-me por certo

que bom estou são
e descobri
que tenho coração
vou pra casa amanhã

foi sorte
a dorzinha chata que me pegou
não maltratou
e estou novo
de novo

continuo amando tudo
a vida a sorte até a morte
loonge
que ;onge fique
ainda tenho pique

e sobretudo 
os amigos em quem apostei
ganhei 


Rio, 24 de junho de 2011




quinta-feira, 16 de junho de 2011

CAMINHANDO







hoje não se demora
logo será amanhã


ontem? 
já é passado agora


dias
meses talvez
anos
errando vou caminhando


muito ou nada
pouco importam 
dejetos do que não serei


ontem foi como pedra
amanhã vem como água 


o presente nem existe
tal poeira da pegada
apenas levantada


caminhando caminhando
passa o tempo por mim
vou andando


entoando
velhas imprecações
ou
se quiserem 
orações


ofício estranho do poeta
inventar uma canção


canta coração


Rio, junho de 2011



terça-feira, 14 de junho de 2011

O BEIJO

o beijo de chegada [ou de partida?]




nao é muito o que desejo
mas o ensejo de chegar vivo
consciente e inteiro 


ativo


o beijo bem dado são sempre dois
o que dei em vida e o que vem depois


sei que não demora
espero mas não quero 
esse beijo 
agora


o que vem virá
se é morte não é sorte
mas se tem que ser será


Rio, junho de 2011



MEU SONHO





no fim do caminho
enamorado estou de um sonho teu


não há dois sonhos
no sonho já meu





Rio, junho de 2011





segunda-feira, 13 de junho de 2011

PALAVRAS AO VENTO





palavras tocadas pelo vento perdem-se 
como desejos que beijam lábios
e se calam


vento que me arrebata
sopra as folhas fúteis da ilusão
e seca lágrimas 
enganadas

desejo 
apaga a luz da fúria vã
não é fácil amar


lábios úmidos 
junto a tua boca
já sem palavras 
 falam


e o poema como quem teima  
canta


Rio, junho de 2011



sábado, 11 de junho de 2011

ARCO-IRIS





este poema é canto
canto chão
este poema é vida
de exaltação
este poema é triste
na lamentação
este poema é tudo
de quando nasce
da imaginação


o poema é água terra e ar
quando flutua mar 

e se agita

quando canta o barco
a navegar escolhos
de pedras e palavras
da injusta condenação


este poema é sol
que encanta a gente
sob o arco-iris
entre tênues núvens 
em lágrimas de solidão


este poema é salvação




Rio, junho de 2011



A DOIS



sei que existe o caminho
e que o trilhamos sós
solitáriamente


reconheço-o a cada passo
sou quem sou a cada passo
já diferente


o mar que ladeio é oceano
cheio de mistérios
assustador se não o encaramos


é tudo um sonho
um sonho teu
um sonho meu

mas penso em ti na caminhada
pressinto teu perfume
um cheiro de presença que renova 


que música ouvimos
que nos toca
que idéia juntos nos conduz?

passado o tempo
o espaço se reduz e no entanto
não te apercebes do tanto que andamos


não te dás por mim
diante do oceano
mas caminhamos

o tempo alia-se ao espaço
estabelece o ritmo
de cada passo

o mar parece igual
mas iguais não somos
como cada onda que derrama


a caminhada nos desperta
e nos refunde
na descoberta

cadenciamos quando sentimos 
não estamos alheios
somamos  


enleados no sonho 
já não há dois sonhos 
no sonho teu agora meu


Rio, junho de 2010



quinta-feira, 9 de junho de 2011

NEL MEZZO DEL CAMMIN [recordando]









E eu aqui, no meio do caminho.
Sem esperança, abandono ou remorso
de haver amado e não saber amar,
de haver tentado e não saber ousar,
de haver sabido e não querer lembrar,
de haver querido e já não querer mais.


Aquilo que foi e o que poderia ter sido
nada me dizem, mas o que será.


Nel Mezzo del Cammin, 2001.
Editora Expressão e Cultura



terça-feira, 7 de junho de 2011

O POEMA [recordando...]



De meu primeiro livro, 
"Nel Mezzo del Cammin",
Editora Expressão e Cultura, 2001.

I
[de oito partes]



Será importante saber como nasce o poema?
A pergunta é a dúvida, 
com ela, uma certeza, 
a de que a pedra, a água que flui e o pássaro são vida
que se compõe com a beleza.
Pessoa, em Caieiro,
via coisas e seres
e descobria a beleza,
sem falar da natureza
que como existência não há
por falta de consciência
de que a pedra, montes e água 
são partes que se entretecem.
Alberto, ah! que esperto, percebeu cada coisa
e descobriu a beleza
nelas.



segunda-feira, 6 de junho de 2011

MERDA ENTÃO






tonitroantes
como um vulcão



letras sons
vogais consoantes
toantes destoantes
dissonantes


explode o fogo
lava
pedras em profusão


rochas contra palavras 
cinzas testemunham o céu
azul azul


há preço no poema
que não é lido?


a palavra é pedra
letras
sons
cinza sobre azul


o que arde é lava
cinza
que escurece o poema


merda então!




Rio, junho de 2011











domingo, 5 de junho de 2011

SEM PALAVRAS





eu te direi amor sem te dizer
porque sei onde moram as palavras
e o tanto que escondem
das aparências que desejam renegar


negar não nego
que não tenho poder para anular
humanos modos
de quem não é senão meu "alter ego"


mas te queria canção
talvez em forma de poesia
que vibrasse assim como oração 


e no beijo murmurado ao pé do ouvido
tudo já faria mais sentido
que nem palavras eu usaria para amar




Rio, junho de 2011



quarta-feira, 1 de junho de 2011

BEIJO LOUCO









de tanto amor e beijo apaixonado
deixei-me sucumbir
como se cada beijo me fosse dado último
como se não houvesse outro para dar


o tempo foi passando
rodou tanto que cheguei aqui
foram tantos tantos escolhi
que os lábios secos
já nem beijos dão


mas o teu beijo tão apaixonado
vale a vida toda
vale os beijos que já consumi
vem vem sem hesitar
dar-me tua boca
por teu desejo sempre muito louca
vem que te quero amar


vem
porque se não vier
vou te ver aí


Rio, maio de 2011















PESCADOR





fui pescador 
tudo era claro


muito gozei
naquilo que pequei
muito esperei
em quem eu muito amei


nunca dormi sobre o abismo
nem por amor nem por pecador
pequei e fui pescado
tudo ganhei
tudo perdi
mas hoje sei
eu fui bem amado


Rio, maio de 2011



PRECIPÍCIO



‎[improviso] Para o poeta Filipe Couto




nenhum amor beira o precipício
nem um precipício vale tanto amor
nunca perguntei porque amava
nunca amei sem me perguntar


na minha vida ainda inacabada
o amor chegou
o amor partiu
por pontes altas sempre no abismo
o precipício nunca aconteceu...




Rio, maio de 2011




Nota: poemeto de improviso para refletir sobre a bela letra de 






Só Amor

"Se é amor o que faz sentar
à beira do precipício
e esperar, como pescador,

sem saber como, nem quando,
nem donde virá teu sorriso;

então, é amor

(só amor)o que sinto."





Terceira idéia [de novo, de minha lavra, ainda atado ao que diz Filipe]:



PESCADOR



fui pescador 
tudo era claro

muito gozei
naquilo que pequei
muito esperei
em quem eu muito amei

nunca dormi sobre o abismo
nem por amor nem por pecador
pequei e fui pescado
tudo ganhei
tudo perdi
mas hoje sei
eu fui bem amado

Rio, maio de 2011