quinta-feira, 30 de março de 2017

POETA NÃO SOU



isso de ser poeta é uma frustração

pois não sei falar de flores
nem dos aromas de um jardim
e quando trato de amores
o pensamento trava

lembro sempre o poeta

que decifrou o segredo das flores
que têm um tempo de vida
em pétalas se desfazem 
e como tudo morrem

engana-me cada dia a alvorada

pois que o sol se põe no poente
e não sei cantar estrelas
nem fazer juras de amor
sob a lua tão pálida doente

ser poeta

serei tão limitado e pesado
que depois de muito pensar
dar tratos à imaginação
rabiscando feito pateta
decidi não tentar
não sou poeta 

Rio de Janeiro, março de 2017




QUE FAZER



que faço eu a escrever poesia
é a pergunta que se equilibra em outra
que faria eu se não existisse vida

assim perplexo lembro-me das palavras

que me servem para criar versos
regressos de mim mesmo à minha liberdade

vim para ser

se poeta não sei
mas é com poesia que tudo faz sentido
desdobrando metáforas pedinte de ideias
ouvindo o vento que sopra sossegado 
olhando estrelas comunicando espaços
que os olhos não vêem
mas as palavras sentem

tudo o mais nada vale o verso

se deprimido vazio isolado em vida
entre o nascimento e a morte
deixo o abismo e não vivo o universo 

palavras (autênticas)

ideias (falsas)
não quero viver sem as conseqüências
de organizar o espaço e o tempo 
e preparar-me para o indesejado fim
dessa verdade que me dói os ossos

que farei se não escrever poesia



Rio de Janeiro, março de 2017