quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

LIMITES


aos setenta e três diz minha intuição
sensatamente
pouco haver para criar
reservo-me o direito de ignorar facetas de meu inconsciente
como o ar se esquece das aves os mares dos peixes e a floresta dos répteis
mas o farei

ignorarei o amor mas não deixarei de amar
ignorarei o tempo mas ele não deixará de passar
ignorarei meu corpo mas ele não cansa de decair
ignorarei o mundo mas ele está em torno de mim

não posso ignorar a vida 
não devo ignorar a alma que me provê transcendência
não abandonarei meus sonhos são a essência de mim
insistirei na poesia perdida por me salvar

lenda ou sonho realidade ou fato
o poema é o meio por sobre a montanha
de cuja altura avisto

esquecer ontem viver hoje pressentir o futuro são o inevitável
que eu não quis mas não se acaba assim

passou o vento e a tempestade
há quanto tempo nem sei
levo o sonho que vivo seguro por me salvar

gente me enche a vida
jovem traz-me a alegria 
que nas crianças são o bulício

nesta idade o sol está no poente
o romance apenas iniciado
o poema inacabado
e o amor com força presente
no claro do luar que suave ilumina a escuridão

para além disso sou gente
para aquém disso nem sou

Rio, janeiro de 2014.