quinta-feira, 17 de outubro de 2013

FUTURO DO PASSADO





o sentimento que se aproxima no horizonte 
é futuro na percepção do passado
não a eternidade plácida do céu azul
mas o desfile imaterial de fatos idos
pessoas coisas lugares montanhas e o mar
o que já fui o que fiz a quem amei
mescla de sonho e pesadelo o cenário é difuso 
mostra o tempo curto no que resta
ínfimo no que foi
como um rio que busca o mar navego sem temer
e como as águas banho pedras testemunhas do antigo
detenho-me diante de impurezas 
contorno diques
sobreviventes de lutas superadas
folhagens e florações de outras plagas
e a melodia doce e vaga do sussurrar do rio
aquietam a inquietude do confronto ao largo
com o mar imenso impessoal e frio
o mesmo mar o mesmo rio o mesmo sonho
e o pesadelo são o viver estranho
do que real relembra a vida

Rio, outubro de 2013.

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

NOS TEUS ANOS


para a avó de meus netos

ao se abrir a janela de tua idade
é tenra ainda a emoção
de ver-te criar no teu cuidado
a flor do tempo que se renova
no gosto doce de teus netos

na paisagem em cores dos anos idos
a floração em flores lindas
expõe a beleza das coisas findas
que ficarão

Rio, 2 de outubro de 2013.



terça-feira, 1 de outubro de 2013

SONO



o sono adormece o dia
e o silêncio me retempera
do que não é dormir
mas muito mais vontade de despertar
e saltar como fonte em alguma pedra
desgotejando emoções
de estar acordado sem desesperança
do sono que virá

esse sono fugaz que me apaga a luz
tem algo de estagnação
como se o útero me recebesse
e não houvesse a inquietação do claro
das coisas que sucedem e chocam os desprevenidos
dos fatos reincidentes
é sono de dormir e acordar

não temo a indiferença e frigidez suspeita
do sono final 
sei que a pedra criará raízes
e voarei além


Rio, setembro de 2013.