quarta-feira, 30 de maio de 2012

SETE ANOS DE PASTOR



ah essa mania de buscar palavras
para desenhar um verso desafia
o tempo e o poeta


não reflete o nexo


entre o som e o sentido há o abismo
e o eco que sete vezes recambia
o mesmo som em sete formas


do que pensa inconsciente


sete sons sete palavras
sete dias sete anos
sete ilusões em sete vidas


sete e o que me diz a metafísica
  
pudesse eu em sete anos
perpetuar minha alegria
setenta e sete bastariam


sete anos de pastor ainda eu viveria




Rio, maio de 2012.








PESADELO

[de um tema recorrente 
em meu livro "Nel Mezzo del Cammin"]

passo a esquina imaginária 
de corpos como sombras
solitárias 
no frio horror de suas vidas


o sonho pesa o equilíbrio
tornando o gesto repetido
percepção
de ver passar desejo vão 
por amor de hesitações
entre sexo, ódio e traição


não vejo atrás da esquina quem ficou
mas sei que repetem movimentos 
para encontrar o nada
exceto uma ilusória obsessão


pela escura noite do outro lado
curioso e constrangido
vislumbrei a sarjeta enodoada
do abandono de toda intimidade
no frio do descaminho e desamor


ah o terror da cena
de movimento decidido
sem qualquer certeza
exceto fingir 
um presente vago de incerteza 


o sono é testemunha desse drama
pesadelo de mais tristeza que horror 




 Rio, maio de 2012.