sábado, 16 de julho de 2011

HESITAÇÃO







passos
vou devagar porque hesito
à beira da corrente
que outros vem 
enquanto tudo cessa de repente


sou o fim divergente entre o que sou e o que pensa
flutuo o tempo
esqueço 
não sou mais quem fui
mas permaneço como verbo no presente


quem vai
não é quem pensa
apenas vai fisicamente
a alma fica
resistindo ao tempo



mas vens e para ti aperto o passo
e faço versos



Rio, julho de 2011.



ONDE NASCE O POEMA



...à poeta que procura seus caminhos...


entre mim e a palavra
há os lábios
silentes
no deserto das idéias


os lábios são um lugar furtivo
onde não medra
flor nenhuma
se não vem do coração


mas no sonho que liberta 
a palavra floresce 
são idéias e um poema
lá sentido aqui vertido
em versos como flores
nascidas no coração




Rio, julho de 2011.



A LIBERDADE DE SONHAR


a cada novo dia um novo tempo
uma janela que se abre para o sonho
e nessa realidade abstrata
medito sobre as duas vidas
a que tive e a que me resta

navegam barcos
cores pontilhando o mar
até perderem-se no horizonte
fiéis ao desconhecido que os espera
a contemplar o azul onde flutua a ave
sem indicar para onde vão

há terra atrás 
onde gente vive a música da vida
praias de desembarcar do sonho
onde o mar se desprende da grandeza
e se descabela grisalho para o fim

no alto são montanhas
densa mata onde não há morte
e o sonho é verdadeiro
balizado pelo tempo
entre ser desde o início ao curto fim

descubro que da planície a falsa morte
descabelada e grisalha salta ave
e vôa sua faina branca no azul do céu
e natural se torna para quem navega o horizonte
antes ou depois das terras altas
onde cantam poetas os seus cantos 
sobre ramos frágeis pousados na alegria

quanto fui outro na vida que passou
fui ave
que do alto viu distante lá em baixo o horizonte
linha que aos poucos se aproxima
e ave ultrapasso flutuante o meu limite
para ver atrás o alto de meus dias
mas capaz de retomar o sonho
que à frente se anuncia.

sinto a felicidade do que fui
confiante sobrevôo o mar imenso
sem destino
sigo os barcos
em busca do sonho que me resta
feliz 
ave
porque sou capaz ainda de voar
leve a liberdade de escolher
o caminho largo onde tanto amar

Rio, julho de 2011.