domingo, 14 de fevereiro de 2010

DESVARIO







é dentro de mim que o poema aflora
é de fora que ele em mim mergulha

evento que a ventura me dá por grande engano
poeta apaixonado como um rio
leio-me os versos
e vejo que deste amor não tenho cura

espaço desejado
mar aberto
sou vale onde desagua arroio peregrino
e de arroio como um rio
viajo ao mar

vergonhoso do sonho da passagem
tenho o céu por testemunha
e o sol que me acalenta
a úmida palavra
em busca do lugar e posto a navegar

montes
pedras
bosques
verdes ramos despencados
flores da beleza
de um deus a natureza

mundo externo a mim
sou poeta
desassossegado
sem destino
em meus caminhos

inspirado pelos olhos
o que vejo
no desejo atalhado pelo medo
vem de fora vem distante
e mergulha
em mim como palavra
que aflora idéia
na poesia

doce travessura a descoberta
de que tudo é pensamento
do real que de coisa se transforma
em ausência finta
já presença como idéia
ainda que minta
tão alegre quanto triste
e dura
na poesia que perdura

ó grande desvario
mil suspiros ao ar derrama

este poema
dói cura vive e ama



Rio, fevereiro de 2010