"Porém, pera cantar de vosso gesto a composição alta e milagrosa, aqui falta saber, engenho e arte." Luís de Camões ... assim encontrareis aqui palavras magoadas a tornar o fogo frio e dar descanso a minha alma condenada ...
quarta-feira, 30 de novembro de 2011
O TODO O TUDO O NADA
tudo é parte tudo é começo
o todo o tudo
tudo é recomeço
sorrio do poder das frases
rio-me das palavras
porque não dizem nada
combinam-se
transbordando a imaginação
de quem as escreve
ou de quem as lê
e de quem as repete combinadas
e clama aos homens
"isto é um poema"
será?
tudo transforma-se no todo
que é apenas parte
do que o caos universal
tornou em cosmos
a obedecer as leis da ciência
catalogada pelo homem que se perde no exercício
de dar ordem à ilogicidade de tudo
não é necessário imaginação
para entender que o todo é tudo
navegando sobre o nada
Rio, novembro de 2011.
DIVAGAÇÃO [QUASE] POEMA
não sou poeta
escrevo
procuro o que não consegui
talvez [porque não?] talvez tivesse sido
quem desse forma à informal ideia
do amor ou do tempo
que mutuamente se consomem
sem nem mesmo se tornarem vítimas
do efeito estufa
essa mitologia antropomórfica
do homem capaz de alterar as leis do universo
escrevo
não cheguei ao ponto
ainda
de desistir
pois tenho vida
o que não tenho é tempo
essa medida arbitrária da velocidade e do espaço
que ocuparam Einstein
a demonstrar que tudo é relativo
só o homem
cada homem
acredita ainda ser o centro do universo
esquecendo estrelas matinais e noites siderais
no buraco negro da vida
onde palavras pouco dizem
em busca do sentido das coisas
que diz o bardo
não têm sentido nenhum
são coisas
e o tempo finda
a beleza não se turva
lúcida será sempre linda
como infinda
nesta alegria de ser por um instante que não se mede
no cronômetro humano
nem se acaba sob a imaginária estufa
mas ocupa
a fantasia de um Criador
perpetuando a espécie à semelhança
de sua imagem Sixtina
que Miguel anjo
fez beleza
Zeus ou Júpiter oxalá
tragam juízo ao homem que se quer divino
e o reduzam à enormidade do que é
mas não o centro das deambulações astrológicas de estrelas
que se afastam para expandir o universo
destas mesmas palavras que distraidamente escrevo
sem lhes dar valor como poema...
Rio, novembro de 2011.
sábado, 26 de novembro de 2011
sexta-feira, 25 de novembro de 2011
UMA REFLEXÀO
[o passado é memória; o futuro, conjecturas]
...em busca da vida salvo o presente
porque me falta o futuro
em busca da vida
vivo intensamente essa mesma vida
que em breve me faltará
em busca da vida
sou o que ela me dá
agora
o passado por lindo que foi
já findo
morreu...
[e as coisas lindas, muito mais que findas, essas ficarão - Drummond]
Rio, novembro de 2011.
sábado, 5 de novembro de 2011
NAVEGAR É PRECISO
...navegar é preciso...
amo outros ares
e são tantos os lugares
mas a noite desafia
e eu estou triste
sou só melancolia
caminho em círculos
no pouco espaço
nem vou e já volto
não vejo onde chegar
estou deportado
na véspera do nada
e como uma ilha
isolado entregue a mim
no espaço sem fim
quero alegria
sem contenção
que me constranja a alma
e despedace o coração
amo outra vida
onde dormir é estar acordado
de sempre sonhar
amo até o acaso
de um momento de sonho
não depurado
como página em branco
onde escrever uma história
bem sei será diferente amanhã
se o sol me sorrir
e o mundo florir
sem sombras
em que um olhar só bastasse
para iluminar-me a face
tão sonhadora outrora
tão desgastada
e invariavelmente censurada
agora
para tornar-me alguém
sei bem que navegar é preciso
mas não sei sair desta ilha
e navegar outra vez
Rio, novembro de 2011.
sexta-feira, 4 de novembro de 2011
ELEFOA?
nem amor nem melancolia
nem sombra de um mau dia
não sei dizer o que sinto
e se disser sei que minto
finjo que sou feliz
mas no real é só tédio
do meu mal de raiz
que não tem remédio
e a luz que bruxuleia
no sono indeciso que vem
nem é luz é consciência
que me apaga a quase ninguém
vou-me vou-me pra cama
fim desse anônimo dia
mas vou como quem ama
essa vida tão vazia
boa noite amores
sonhos e dissabores
o dia se foi e é tarde
só me coça o que me arde
e daí bla bla adiante
dessas letras tão à toa
nada ajuda um elefante
nem mesmo estando de boa
Rio, 04 de novembro de 2011.
quarta-feira, 2 de novembro de 2011
EV'RY TIME WE SAY GOODBYE
...how strange the change from major to minor
every time we say goodbye...[Cole Porter]
every time we say goodbye...[Cole Porter]
nunca foi esse
mas do que sofri
a cada instante que perdi
por ter sido louco
de não ficar para amar
antes que o perdesse
e esquecesse
o que foi verdade
e o que é fictício
e toda vez que o esqueço eu morro um pouco
[every time we say goodbye I die a little]
Rio, novembro de 2011.
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