quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

P'RA QUE VOAR BORBOLETA?







não voes já borboleta
tem ares de não voar
ninguém te veio buscar
há muito tempo a tarde
avermelha o meu mar
que à noite empresta a prata
da superfície lunar


lá na curva distante
ainda há muitos instantes
que necessitas viver
nem tenhas pressa demais
nem tarde deves chegar
tens a chave da vida
não a percas cuidado 
mantém as asas ativas
azuis
para o mundo encantar

sou eu o falso poeta

que se põe a cantar
a beleza de teus olhos
que me fazem enxergar
a terra florestas o mar
e a leveza do ar
a gente que me rodeia
e o amor que me faz inda amar

descansa um tempo 

espera
deixa o tempo passar
ainda estou na janela
e nela quero ficar
não voes já borboleta
há hálitos por respirar
o fresco perfume da brisa
as peles que posso tocar

não voes já borboleta

ainda quero ficar...

São Paulo, 12 de janeiro de 2017

  

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

NU





hoje é presente
o futuro será amanhã
e o sol brilhará
sem que eu mova uma palha

estou nu diante do inevitável
há setenta e seis anos 
felizes

nenhum mal
sou apenas mais um
sujeito a essa rotina

ou não

São Paulo, 11 de janeiro de 2017

domingo, 1 de janeiro de 2017

"REVEILLONNER"



não canto o ano porque vivo o dia
sucessão de outros dias

antes vivê-los assim
instantes
sem perder a esperança

o ano que entra não sucede o que sai
um fenômeno sideral

como ondas que rolam sobre areia
somos sempre nós mesmos
diferentes na intensidade

diante de mim tenho o horizonte
e cá bem perto minha janela
daqui vejo a realidade

já por lá toda magia
do inconsciente que sonha

o ano passa qual nuvem ligeira 
por um momento atormenta minha alma
mas nem o vejo ao romper o novo dia

o sol no alto me ilumina
glória em vida

o que durmo sou quem passa
mas vivo cada dia a alegria

ontem não existe
finjo o que hoje sou
só no futuro há fantasia

e assim penso e assim vivo
o que me é dado é meu fado
o que não é meu não será
reservo-me para a viagem final 

"...tutto il passato in un punto
[...] non turberà suono alcuno..." *

"atrás não torno [...] só há lugar no futuro..."**


* variante de Eugenio Montale (Quasi una fantasia)
** variante minha, inspirada em Ricardo Reis (Fernando Pessoa)

Rio de Janeiro, 01 de janeiro de 2017