quinta-feira, 1 de abril de 2010

FICAR PARTIR









podia falar de mim na ilusão de ser ouvido
antes do último vôo
mas tudo esqueço e omito o principal
implacável sinto-me só
no esforço de por ordem
na sucessão de versos que a noite inspira
e a angústia de querer ficar suspira
noites que imitam a grande noite
entregam-me migalhas em forma de palavras
e não me libertam
para que eu diga que estou feliz
dizendo o que sinto
triste falar do que não quero
e dizer de tal maneira que ouçam a minha voz
e nela não se encontrem ameaças
mas a alegria de permanecer
para noite após noite respirar a pureza da manhã


Rio, abril de 2010