[dedicado a Fabio Luiz Delfino em 7 de janeiro
no seu momento da virada]
abstraio-me
do que penso e concentro-me no que sinto
dialogo comigo
trago o mundo no olhar
os magníficos homens
as mulheres essenciais
a vitória e a reverência
aos vencedores onde quer que seu traço deixem
mas nesse diálogo valem igualmente
a mansa água que me ilumina os olhos
a espada preparada
a memória da alma
o sentimento do mundo
amealhados na véspera de ser homem
para a difícil tarefa de compreender o outro
tanto tempo passado segue o amor
atrás do ilusório vento
a cantar a melodia da paixão
em busca da razão
não suponho automática a compreensão
mas despertas em meio à noite
sinapses retomam o coração
que repousa a angústia do dia
e vêm os sonhos
sim o outro é minha paixão
aquele que menino um dia homem
molda no seu dia-a-dia
inspirado na alegria
toda a percepção
o mundo vertiginoso gira
despencam a prumo
torrentes
tempestades
desencontrados punhais
mas o tempo esse implacável
remete o ritmo a seu lugar
e lhe dá lógica
amenizando erros
formalizando a sustentação
de dois e todos
no equilíbrio
entre razão e coração
para do exercício da dúvida
formar seguramente certezas
é tarde
mas há bonança e entendimento no diálogo
se cada um entende
quem é e pode retratar quem foi
no olhar para trás
e construir sobre o que fez
para avançar
Rio, janeiro de 2009