segunda-feira, 28 de agosto de 2017

INVERNO



o sol que brilha no inverno
sobre este mar encantado
expõe minha inútil solidão

ninguém
mas ninguém 
tivesse o amor desta praia
sentir-se-ia só talvez
como me sinto

sob o horizonte estendo meu olhar
e vejo o céu
que azul é céu 
azul como este céu
que me acompanha inda irreal

beleza de um olhar
só 
sem procurar
debruçado sobre a extensão da areia branca
reluzente prata sob o sol
sem querer achar
neste frio muito além de seu tempo
outra companhia

Rio de Janeiro, agosto de 2017. 


PALAVRA BUSCADA




onde quer que a procure não encontro 
a palavra que se esconde
que trapaceia
e  desaparece para não se expor

o que desejo revela-se apenas em mim
no imaginário
que não se concretiza

a quem é permitido sonhar
e sabendo o que sonha
não tem palavras
para se expressar (?)

quanta palavra não achada
quanta perdida palavra
nessa vacuidade
para onde vão (?)

essa perplexidade me agride

Rio de janeiro, agosto de 2017

domingo, 27 de agosto de 2017

MISTÉRIO





a espera é o último alento
da esperança que se esvai
e do seu encantamento
que nos levou enganoso a vida toda

mas se a última que morre
tivesse nada a ver com a vida
ficaria como o horizonte à distância 
mistério
imaginação agudizada

é a transição que nos assalta
de repente na curva da única estrada
não é o fim nem o começo
talvez o mistério já aceito


vaga a espera vã a esperança

Rio de Janeiro, agosto de 2017.

sábado, 26 de agosto de 2017

A HORA





conto a vida como o dia-a-dia
e tudo é sempre igual
grande ou pequeno 
como pode ser 

vivo sem qualquer memória
só o encanto do que tenho agora
sem alongar a vista nem olhar p'ra trás 

e assim respondo a quem quer saber
esse é meu mundo
míope e restrito
e nada dói senão só viver

Rio de Janeiro, agosto de 2017

quinta-feira, 17 de agosto de 2017

REVIVER



são tantos os momentos de que não recordo
que me parece estar dormindo ainda
navegando sobre águas calmas
de minha vida variada talvez atribulada

tudo parece inútil
quando as formas e conteúdos apresentam-se
caprichosamente raros quando juntados
tudo esconde caminhos que tomei
em decisões já findas

meu desejo seria rever todas
para recuperar os desvios
e viver a mesma vida e outro encanto

Rio de Janeiro, julho de 2017

quinta-feira, 10 de agosto de 2017

CONSCIÊNCIA




a vida é o que é
um intervalo
entre nascer e morrer

partir para além da vida
é continuar a viver
apenas do outro lado

vivam esta vida
sem pensar em outra que virá
aguardem-na
como fato natural
do qual não fugiremos
nem escaparemos
apenas viveremos
num total

de onde estou vejo o que sou
não conheço o que serei
mas confio
no que me tornarei
sem o saber

não serei um
mas todos
a consciência universal
do outro lado

Rio de Janeiro, agosto de 2017