sábado, 23 de outubro de 2010

FALO [recordando]




Falo (Sinto?), texto de 1999.

Falo do sentimento cruel da incerteza.

Falo de falo, do membro viril que a vida enche de beleza em sensações tanáticas de gozo.

A cada amor a cena repetida.

Sinto gente que existe. Sinto da sintonia entre vida e vida. Falo da construção do sentimento, em falas éticas que ouso lembrar à vida bem vivida.

Falo e sinto,

Sinto e falo.

Falo, minto.

Que posso mais?

Nada.


Rio, dezembro de 1999




CÉU ABERTO [recordando]


CÉU ABERTO, texto de VULCANO, livreto de 2004,

escrito em Santorini, Grécia,

sob o impacto da aridez e isolamento da ilha vulcânica.




Dia claro, invisível, puro espaço

aberto sobre o mar azul em vaso côncavo

de terras altas, secas, pedregosas, duras,

tingidas de estrias brancas longas frias

nas agudas cristas, tensas montarias.

Ícones.

O ar e o mar, o céu, omitindo estrelas,

mescla no horizonte azul e azul, um tênue cinza,

planeta e cobertura universal

fundidos em manto entreaberto,

céu e mar.

Barcos silenciosos singram esteiras de trilhas percorridas,

espumas do passar passando

um passado navegando,

mansamente,

o mundo.

Sol, mar, o ar translúcido, sonha o homem

estrelas ociosas,

sentimentos,

onde tudo não é mais que o pensamento

de Um que dorme e nos recria

ao som da música do vento.

Santorini, junho de 2004.