quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

UMA NOITE SÓ


são ondas do mar
são apenas ondas do mar
a música que ouço repetida mas harmônica
um som suave vem e vai
que se repete com as gaivotas
em seu vôo circular

sento-me sobre a areia úmida da noite fresca
dispo-me do próprio ego
e deixo-me sentir
que neste verão de calor pouco usual
o frescor da aragem alimenta-me
e me reconforta

um clima de serena madrugada
ajuda-me a sonhar
e talvez entender
a monótona linguagem do mar
que me penetra em forma de solidão

ponho-me dentro de mim
e sinto o sincopado pulsar do coração
isto me acalma
e me alia à palma nunca subjugada pelo vento
mas sensível quando se inclina

ninguém em torno ninguém por perto
sou um homem são em busca das sensações
de cada tato de únicos sons
isolado e feliz como o Argonauta
em busca das emoções verdadeiras [Caieiro]

são apenas as ondas do mar
a música do suave marejar
a guiar as gaivotas
na aragem bem vinda de uma noite 


Rio, fevereiro de 2014.

REAL E SONHO



sonho e realidade
instâncias de uma mesma vida

quando tem sol brilha o sol
quanto chove torrencial a visão é cinza
ao abrir a janela
ao fechá-la

quem sabe a verdade de cada um
com seus próprios olhos
e próprio toque de mão
quem sabe

durante todo o dia
uma flor executa uma cantata de Bach
fruto de sua memória
ouço um cello por vezes soturno e grave
quem sabe não somos donos de nossos ouvidos também

penso e escrevo

do mais puro sonho volto-me para a realidade
são duas horas da manhã
não vejo fora de minha janela a fonte
límpida de água pura
tão comum em Roma

alguém está cego
eu ou a fonte
mas a água é fresca
eu sinto isso

uma gaivota sobrevôa  o mar escuro
não a vejo mas ouço
o que é real o que é sonho
nunca saberei 

e sem planejar
indisciplinadamente
inclino-me em respeito à Criação

Rio, frevereiro de 2014