[para Celina seu poema de 2001 revisto em Londres em 2008]
Vivem em nós todos
os que somos
os que vivemos
os que sentimos.
O homo clausus é o composto de que vive a consciência
de todos os que nascemos.
Não há desterro em si mesmo,
existimos porque a natureza se comunica em nós
e os astros sintonizam a irradiação da vida.
Somos quem pensa únicos (talvez) a descrever o mundo
com olhos voltados para o infinito que não vemos
mas sentimos na exigência de ser
que sobrevive à negação da morte
para propor o que exista
no inconsciente coletivo.
O amanhã existe e está presente
na herança do passado
de que somos elo em momento cuja única certeza
está neste presente que não é triste
é fugidio.
Aguardo o prazer da ultrapassagem
súdito dos astros
parte da natureza
que não é ausente nem presente
sou eu ela.
A liberdade de ser é vastidão infinda do brilho de um dia
da noite que habito com a familiaridade das estrelas
da altura de mim mesmo em meu lugar
onde não sou proscrito
mas existo.
"Aguardo […] o que não conheço
meu futuro e o de tudo"*
o fim ilusório da matéria
no concreto quântico do nada
em vibrações que não se explicam
mas persistem no tumulto aparente
do que sou e penso
do que guardo em mim
o tesouro de compreender-me em todos
e todos dentro de mim.
* Fernando Pessoa
NYC, setembro de 2001.