sexta-feira, 4 de junho de 2010

MARCAS DA FANTASIA








escrever não é menos nem mais
a idéia a frase o jogo de palavras
afogados na vil escravidão
de ereções em orgasmos de pura masturbação

poetas sobrevivem a maus poemas
mas pagarão suas penas
exaustos de escrever sem forma e sem razão
linguagem de falsa sofisticação

leio releio para entender o meio
onde proliferam
filósofos lingüistas
meros legistas descrentes
crentes
que poesia é sopro de inspiração
em versos sem lipoaspiração

tudo se perde em furiosa ventania
de idéias curiosas em formas já batidas
miragens
de alguns em falsa altaneria
suplicantes de cultura
são pedantes
pura água na fervura

tudo se copia
sem culpa que nada se recria

Rio, junho de 2010




LE BATEAU IVRE [O MEU BARCO BÊBADO]








"Le Bateau Ivre" [Arthur Rimbaud]



sou marinheiro de um mesmo mar mas sem navio
navego águas de todas as doçuras
distâncias cores e lonjuras

nasci assim sujeito a espaço aberto
porque para mim o sonho é descoberto
ondeando à luz do sol bravio

canto a vida e o encanto de sereias
batido pelo vento atado ao mastro
obsecado da visão sobre as areias

a terra o mar o vento os astros
guiam-me o destino
no mar em que me perco em cego desatino

e isto é ser livre
só mirar céus de constelações distantes
e viver marinho o sonho de um instante

sou marinheiro o mar me chama
esse amor me inflama
na paixão de reler o "bateau ivre"

" (Ô que ma quille éclate! Ô que j'aille à la mer!"

Rio, maio de 201