quinta-feira, 5 de maio de 2011

REFLEXÕES EM CAMPO ABERTO: é possível definir poesia?






REFLEXÕES EM CAMPO ABERTO: é possível definir poesia? 
VIDRÁGUAS e Carmen - reflexões em campo aberto


Abrir caminhos derrubar trincheiras liberar. Reconheço a arquitetura deste espaço de aventuras a desvendar segredos de tantos egos desconhecidos em palavras que lhes dizem à alma. Creio na aurora de muitos sóis, acredito na liberdade de dizer mesmo que às custas de não ser compreendido, sei que a criação existe no mito da sensibilidade e a música, sem palavras, dá-nos o tom e a melodia que é puro ouvido...do espírito. Assim é a poesia de todas as paixões ao não dizer tudo e insinuar muito, a música que ouvimos também se escreve no ritmo interno das idéias e sensações. Aconselhava o poeta em frase clássica "deixe crescer a semente que Deus plantou na tua alma/ e tua posteridade tranquila se multiplicará/ na proporção das areias do mar e das estrelas do céu". Por vezes, sentado à beira de um verso medito para descobrir o que me induziu a escrevê-lo e não descubro senão que não fui eu que o escrevi, mas minhas mãos guiadas por desígnio ignoto a vir de não sei onde para alcançar não sei o que, mas sinto a música formal ou virtual no que as mãos souberam dedilhar. Não há princípio [por isso meus versos jamais começam com letras maiúsculas] nem nada se termina [por isso não há pontos finais] e as palavras jogam livres ao sabor da força que as atrai antes o depois de escritas [e isso é uma tarefa do leitor]. Caos, diriam os puristas gramaticais, ignorância das regras, pensariam os exegetas escravizados pela forma lexical. Assim entendo o pouco que pensei no muito que há a pensar e, em meu degredo, envolto em nuvens, descobri o valor de escrever [o que sinto? Não sei] sob o comando apenas da percepção, que é um momento. Alguns buscam autobiografia, outros sentimentos, mais além descobrem pensamentos, mas nada disso há, são palavras lançadas ao vento do alto de um navio que navega um céu aberto e encontram o leitor em praia onde se derramam domadas em seu eterno vai-e-vem. Palavras vão palavras vêm palavras ficam gravadas pelo valor que têm na vivência do leitor. Serão sempre poucos mas serão amantes a quem beijo a boca com minha frase em longínqua poesia: "poesia é como o beijo tudo que dos lábios se deseja".

Flávio Miragaia Perri, maio de 2011.







SER OU NÃO SER [miséria humana]





[dedicado à luta para afirmação da Vida]




quando deixarás a aventura em que te matas
profanando o corpo abandonando a alma?


quando tuas mãos farão carinhos em quem te ama
e esquecerão o tempo da miséria humana
a que te destinastes?


quando entenderes que tua alma sobrevive
aos desatinos do desamor que te definha
e dedicares teu tempo a teu futuro
saberás que ser humano é ter irmãos
em todos os homens que te igualam
no respeito e no amor ao que chamamos Vida.


Rio, maio de 2011.