domingo, 28 de fevereiro de 2010

SONHO






ah não me pesa o tempo
que me foge sempre
e no entanto vivo

tudo o que sei
já não me aflige
nem amor mais me exige

sou aquele que sempre fui
mas aceito o fado
que não amei

não não me sinto enganado
nem me ameaça qualquer passado
vivo o presente que me foge em vão
tenho futuro ainda
e coração

sonhando sonho toda a vida
e o sonho é meu


Miami, fevereiro de 2010.





sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

A DOR ETERNA








eu só queria dominar o tempo
e caminhar alheio a ser

dar-me a vida
o que tem que ser
e não ser triste

queria instantes de encantamento
que me dessem o tempo
de não morrer

queria a suavidade
de não ferir
para ser eu

e no entanto
não domino o tempo
não decido a vida

para ser sábio
e tudo esquecer

amar-te
sem o transtorno
do que sei




Miami, fevereiro de 2010



segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

CANÇÃO DE LAMENTO [Fausi Kalaoun]




[transcrevo a seguir poema de um menino
de Queimados [RJ]
cuja intensidade me impressionou]


Entristece soturna palidez !
ecoa , ecoa , os prantos soam
perdão ! Oh magnifica Psiquê
tenho-te desapontado por todo o tempo
com uma dose de caos e duas e meia de furia
preparando um prato da maldita luxuria.
Perdão! Oh benevolente mente
pelas inumeras vezes em que nao me mantive são e a salvo!
Pitorescas lágrimas brincam de piruetas no ar
tocam o solo e se fragmentam
milhoes...
Perdão ! Oh frágil corpo,
se todas as minhas lagrimas germinassem , inundariam o mundo com árvores de lamentações.
Sou fraco, mal consigo viver!
FRACO !
Que tenho alma deplorável
mente suja
e corpo decadente.
Que tao desestruturado sou ,
que saqueio o ar dos fortes para respirar!
Assim, passo por auroras e trevas a lamentar.
Perdão ! Oh fortes por ser a escória!
Perdão ! Oh fracos por nao me tornar forte!
Perdão ! Oh morte , por todas as centenas que tenho te evitado!
Se resolver te enfrentar , por um devaneio vacilante, serei
e antes do final , escaparei
e caso nao escapar
serei feliz
por minha vida ceifar
e finalmente acabar
com todo meu pesar ,
e destruir esta cançao!


Queimados, fevereiro de 2010.

Fausi Kalaoun tem 18 anos e vive em Queimados a 90 km do Rio de Janeiro. Seu poema é natural e sofrido sem leituras o tenham instruído. Um menino ainda capaz de pensar.




domingo, 14 de fevereiro de 2010

DESVARIO







é dentro de mim que o poema aflora
é de fora que ele em mim mergulha

evento que a ventura me dá por grande engano
poeta apaixonado como um rio
leio-me os versos
e vejo que deste amor não tenho cura

espaço desejado
mar aberto
sou vale onde desagua arroio peregrino
e de arroio como um rio
viajo ao mar

vergonhoso do sonho da passagem
tenho o céu por testemunha
e o sol que me acalenta
a úmida palavra
em busca do lugar e posto a navegar

montes
pedras
bosques
verdes ramos despencados
flores da beleza
de um deus a natureza

mundo externo a mim
sou poeta
desassossegado
sem destino
em meus caminhos

inspirado pelos olhos
o que vejo
no desejo atalhado pelo medo
vem de fora vem distante
e mergulha
em mim como palavra
que aflora idéia
na poesia

doce travessura a descoberta
de que tudo é pensamento
do real que de coisa se transforma
em ausência finta
já presença como idéia
ainda que minta
tão alegre quanto triste
e dura
na poesia que perdura

ó grande desvario
mil suspiros ao ar derrama

este poema
dói cura vive e ama



Rio, fevereiro de 2010





sábado, 13 de fevereiro de 2010

ESTRANHEZA









estranho o ofício do verso
a buscar em vão
o que está à mão

o poeta pressente a dor
a morte e o perigo
vive os tormentos do amor

estranho trazer comigo
essa percepção

é como se não soubesse
a música do vento

estranho o vento
entre a poeira e o sono
onde não entra a razão

estranho escrever em versos


Rio, fevereiro de 2010






sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

POESIA LÍQUIDA








[comentário a "Poesia Líquida", de MárcioPerri:

…as palavras calam entre os lábios
entreabertos a contemplar o belo
e tatear gotas
em ondas
no suave encontro da matéria

líquida…

nunca a arte foi fácil
mas descoberta
no frágil e forte da percepção

a caminho do indomável mar

voa poeta irmão a imensidade da imaginação
cria dinamismo e ação
descobre formas que olhos mortais
limitados não vêm

deserta é a vida sem arte

é dentro de ti artista
que toda arte é ave*

* citação em duas linhas de Eugênio de Andrade

Rio, fevereiro de 2010




segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

domingo, 7 de fevereiro de 2010

TRILHA







a alma que de espírito se anima
ao sopro leve de uma brisa
vaga a trilha de um distante nada


Rio, fevereiro de 2010




quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

A LUZ DOS OLHOS MEUS





[assim calmo esperei a sorte ou o destino no instante que morreu]




...há um instante em minha vida
em que deixei a alma
senti meu corpo
e descobri um deus que havia em mim

não era outro o que vi nessa descida
subindo por estrada conhecida
para além da curva
encontrar tudo o que sou

por toda a vida retornei a esse instante
na busca do que há e que não sei
tudo o que fui
no longo tempo só feito de momentos
de feitos e desfeitos

a luz que me ilumina a sobrevida
é parte desse corpo
sem alma mas vibrante de paixão

assim o tempo perde a densidade da razão
e vive a verdade em plena claridade
dos olhos de meu corpo
atravessado pela luz desse meu deus


Rio, fevereiro de 2010