para Aninha e Alice
[a] a crise
cresce em mim o sentimento
arquejante sufocante
à margem de meus versos
da presença indesejada
que pelos passos do tempo não demora
acordo cada dia em meio ao sonho
com a fronte descorada
trêmulo de medo
na coragem de dizer - não quero
não não a quero agora
e no leito adormecido
o sonho recomeça
e o beijo é frio
mas a face despudoradamente jovem
sorri na tentação
e diz - sou eu!
espero o medo mas não me angustio
pois o que vem é esperado
triste suspirado
é parte de um desamor bem conhecido
que a vida traz do nascimento
peço tempo à imprudente jovem visitante
velha senhora transvestida
de pé à beira de meus versos
[b] interregno
lembro a ficção
e prezo a noite
silencio o escuro e me consinto
fugir do amor não desejado
[c] decisão
não não direi o eterno adeus agora
acordo em plena aurora
que me cheira a madrugada
o alvor do dia que renasce
o tempo renovado
e o urgente amor
na reinvenção da alegria
duas vidas iluminam-me o futuro
a curiosidade me aquece
no que são
e tornarão
no bulício jovem da aventura
é tempo de mudar o sonho
é urgente resistir
é urgente
multiplicar o beijo
caminhar
viver para sentir
e decididamente amar
São Paulo, 13 de julho de 2009