sexta-feira, 21 de agosto de 2009

URGÊNCIA




para Aninha e Alice



[a] a crise

cresce em mim o sentimento
arquejante sufocante
à margem de meus versos
da presença indesejada
que pelos passos do tempo não demora

acordo cada dia em meio ao sonho
com a fronte descorada
trêmulo de medo
na coragem de dizer - não quero
não não a quero agora

e no leito adormecido
o sonho recomeça
e o beijo é frio
mas a face despudoradamente jovem
sorri na tentação
e diz - sou eu!

espero o medo mas não me angustio
pois o que vem é esperado
triste suspirado
é parte de um desamor bem conhecido
que a vida traz do nascimento

peço tempo à imprudente jovem visitante
velha senhora transvestida
de pé à beira de meus versos

[b] interregno

lembro a ficção
e prezo a noite
silencio o escuro e me consinto
fugir do amor não desejado

[c] decisão

não não direi o eterno adeus agora
acordo em plena aurora
que me cheira a madrugada
o alvor do dia que renasce
o tempo renovado
e o urgente amor
na reinvenção da alegria

duas vidas iluminam-me o futuro
a curiosidade me aquece
no que são
e tornarão
no bulício jovem da aventura

é tempo de mudar o sonho
é urgente resistir
é urgente
multiplicar o beijo
caminhar
viver para sentir
e decididamente amar


São Paulo, 13 de julho de 2009




AVÔ








eu não supunha as alegrias do avô
a cada dia lembrar
Ana Luiza e Alice que me vêem
como o Amor que regem sem saber

sou eu e não me esqueço
a parte desejada
porque sou quem lhes consente
ser o que são

crianças e vontades
na roda da esperança
de tudo e ilusões

que canto a realizar
tão pronto ouço o pranto
e as vozinhas que suplicam "vô!"

Rio de Janeiro, agosto de 2009