segunda-feira, 26 de agosto de 2013

INDAGAÇÕES NADA METAFÍSICAS



como antecipar o verso
se não podes aprisionar a palavra?

como teu destino
involuntário
torna-se teu fado?

como construir o poema
a partir do nada?

Rio, agosto de 2013.



ADOÇÃO



o verso de que não preciso
impõe-se alheio
obriga a si próprio
nada o muda
e se faz filho

Rio, agosto de 2013.



CONTRADIÇÃO



o poema não é como sentimos
mas como o escrevemos
sem nem mesmo invenção no correr dos dedos
sobre o teclado frio
a psicografia do poeta consigo
impõe-se a cada letra devorada pelo texto
não há outro caminho

a releitura é a morte da expressão original
cada palavra conspurcando a frase
a autocrítica feroz
de que o sangue é a insônia
e o tédio da repetição

escrito não me recordo a alma
nada é real
não há verdade
a frase resulta da conveniência da composição
e o amor nem implica sentimento ou sentido
ainda que declarado à viva voz
piegas se o deixamos livre

mas

a curiosidade mata o tempo
e a releitura revela insuspeitos segredos
como a flor em botão
o poema ganha independência
perfume às vezes
e sua vida instila sentimentos
no que não se supunha tê-los
tudo é surpresa para o autor
que se reconhece nele


Rio, agosto de 2013.