sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

BEETHOVEN



nem armas nem barões assinalei
quando cantei


mas advirto
o que vi de fora
não me habita
dentro


alegrias tristezas 
nada ficou para cantar
em palavras que um sentido tivessem
de mágoa talvez
para entender-me


pensei em mim mas não cantei


se quiserem
meu canto será parte do que sou
espreitando o que fui
ou não 
num momento


só é meu porque o escrevi
mas não me encontrei
nem me perdi


não sinto meu canto
percebo o instante 
mas não o direi alegre 
nem triste


há o tempo
esse fantasma impalpável
amores há
entre tantos dissabores
dores poucas


ah e a lembrança


talvez por isso a saudade discreta
está presente em silêncio
no abstrato de ser
o que não sei


canto a percepção 
mas não me sinto 


como Beethoven não ouço
e não sendo Beethoven
não crio


Rio, janeiro de 2012.




QUEM SOU?





sei que nada sei de mim
o que sou não saberei
não me sobreviverei


o tempo passou
o dia se foi
as estrelas dispersas
parecem vazias
não sei o que sou


vou-me de instante a instante
em busca de mim
nem um passo além
nem gestos aquém
não sou ninguém


quem sou entre tantos
talvez
sombra do que pareço
quem mais eu serei [?] 


pedra polida
apenas o vento
ou gotas de chuva
resvalam em mim
não sinto meu canto


....................................................................indago quem sou


Rio, janeiro de 2012






VERDADEIRO FALSO




se em sonho vives
de teus desejos sobrevivo



tens em mim o efeito 
fantasiado travestido diluído


entre o sonho e teus desejos
o poema passa
como brisa que refresca a alma
e me faz feliz



tudo o mais é falso
nunca é o que é


Rio, janeiro de 2012.










"O FIM DE TUDO"



"...eu canto porque o instante existe [...]
 não sou alegre nem triste, sou poeta..."
Cecília Meireles




a melancolia não é gozo 
vem da alma e nada diz


não é o fim de tudo
não renega o futuro
não desafia o presente
e o passado não vê


basta o amor incompleto
o resto é abstrato


parece qualquer coisa hesitante
entre o sono e o sonho


chora por existir
ou por exasperadamente rir


a melancolia é a dor do momento
não a tristeza final



Rio, janeiro de 2012.

[a propósito de um comentário anônimo sobre VERSOS ILUSÓRIOS]