quarta-feira, 28 de setembro de 2016

INDAGAÇÃO





que seria se nos olhássemos 
no espelho azul translúcido
sobre pedras imóveis 
que aparentemente se movem
ao ilusório sabor do ritmo da água
inconstante efêmero circular
de folhas que decaem
e flocos de nuvens que distorcem
o branco dos céus
apenas ondulando minha imobilidade
que o vento sopra para o sem fim

Rio, setembro de 2016

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

FAMILIA






FAMÍLIA


"Come allora oggi in tua presenza impietro,
mare, ma non più degno 
mi credo del solenne ammonimento
del tuo respiro. Tu m'hai detto primo
che il piccino fermento
del mio cuore non era che un momento
del tuo; che mi era in fondo
la tua legge rischiosa: esser vasto e diverso
e insieme fisso:..."

Eugenio Montale, in Ossos de Sépia, Mediterrâneo.


Aqui estamos
diversos corações dispersos
juntos
a subir a encosta
de onde vieram

áridos tempos de longas viagens
correndo o tempo
mar afora
para encontrar a terra prometida
e dela voltar
com a alegria de conhecer
lá e aqui
o frio branco 
a casa sóbria em campos de neve
e o sol escaldante
deste trópico amante
onde não estamos sós
definitivamente partes
de corações que se uniram
lá atrás 

o inexorável tempo não nos separa
a vastidão das distâncias ao contrário nos une
na imobilidade infinita
desta pedra
que nós nos somos

outubro de 2016
Flávio Perri