sábado, 23 de fevereiro de 2013

FURTO DO FUTURO


dia-a-dia renovo meu futuro
deixo o passado
nada é impossível assim
a vida sossega
mágoas extinguem-se ao fogo do tempo
mas posso sentir saudade
de um momento
e é suave o perfume desse jardim

deixo a luz acesa quando durmo
uma recordação da consciência
que não se apaga
mas não impede o sono
e as lonjuras do sonho
que terminam e retomam o fio da meada
para dar-me perfeita
a ilusão de viver

à vista do porto
aproximo-me do cais
e trago comigo meu sonho de infância
sob a forma de ideais
da ilha dos tempos
e afago o amor que nunca me deixou
em meio as cores e perfumes
de todos os lugares

para além da vida
tenho o mar e o céu
batidos pelo vento
e esperanças da mocidade
para escrever minha história
súmula de um passado que se apaga
com um aceno
ao curto futuro que me espera
como furto
e me embala

Rio, fevereiro de 2013




domingo, 17 de fevereiro de 2013

SER POETA


se para ser poeta
dependo da palavra aleatória
jamais farei poesia
pois o que sei é contar histórias
e depois
burocrata
acostumei-me com os memoranda
os fechos formais
Vossa Excelência e Senhoria
sempre respeitosamente

era jovem

já mais velho

cãs
não soberanos 
palavras escapam entre circunvoluções
sem falar no lembrar e esquecer
que em mim são alucinações
que se diluem lentamente
no passar dos anos

se para ser poeta
dependo da sorte
então
só me resta sem me lamentar
esperar a morte
Rio, fevereiro de 2013


FINGIMENTO


poeta finjo
mas não minto
falo a verdade quando sinto
o mar
da minha janela
a vela que flutua
como pássaro na linha do horizonte
enquanto as ondas quebram
grisalhas como eu

finjo o poeta
não minto
sinto

Rio, fevereiro de 2013




sábado, 16 de fevereiro de 2013

CHORO DE HOMEM



homem chora
de raiva
de tristeza
da emoção do amor
que vem com o vento
quilômetros
milhas
como pedra
quando ao som do violão
revoa a passarada
esvoaça a borboleta
arrebenta o coração

homem chora
copiosamente
da saudade de um bem
de amor sofrido e não tido
do carinho de ninguém
 Rio, fevereiro de 2013



domingo, 10 de fevereiro de 2013

DÚVIDA EXISTENCIAL (no carnaval)



atrás da máscara
és como mais um 
que passa em meio às gentes
em multidão 
antes do sonho

incógnito

sem óculos escuros
danças um samba 
(verdadeiro ou falso)
de um bloco de carnaval

mas espera
esse é meu modo (imprudente)
de ver-te

limito-me ao caminho inverossímil 
e sigo 
entre espinhos e cardos
falho da imaginação
que te faz sambar

é estranho que não te compreenda
dançarino fantástico

entre quem sou e tua fantasia
haverá um sentido

somos animais da mesma espécie
só (ainda) não entendi quem sou
talvez tu sejas quem eu devesse ser
ou tentar 
(num esforço final)

talvez 
(em doses homeopáticas)
seja tempo de viver tua tensão afinal

é apenas carnaval


Rio, fevereiro de 2013



sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

CARNAVAL


aos setenta de minha vida

que não sei se acaba ou começou
a esquina (imaginária) intacta 
onde não olham
os que passam continua lá


no subterrâneo de minha memória
não há surpresa 
diante da turba móvel
(a passar) 
diante de olhos cegos de tanto ver  


a multidão dos que ignoram
a ilusão de tudo
tenta a sorte que não lhes bate à porta
não por falta de imaginação

(pausa)

a exclusão é a regra

entre as mãos a baqueta

dos fatos esgarça
palavras entre os dedos
ouço-as
(surdo)
impalpáveis ao vento

dormi anos em "staccato"

a fantasia de existir

não me faz mal

(entretanto)
a dança de viver
que não se cala
e canta

é véspera de carnaval



Rio, fevereiro de 2013



quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

VÉSPERA DA FOLIA


mar preguiçoso
esparramado na areia

o som do vento 

chilreia em cor quase azul

tudo é calma

testemunhada do sol
sereno
decidido a não queimar
a doçura de corpos 
morenos
pedindo amores
cantos
tambores

véspera de carnaval



Rio, fevereiro de 2013



segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

MISSÃO


viver  foi a missão que recebi
quando nasci

nenhuma dúvida resta
não há pausa
avanço 
como determina o destino


Rio, fevereiro de 2013



sábado, 2 de fevereiro de 2013

MATEMÁTICA


o calendário é de tal forma impiedoso
que esgota a cada vinte e quatro horas
um dia
e não perdoa trinta ou trinta e um deles
para derrotar em fevereiro vinte e oito

no rio de janeiro é já fevereiro 
duas vezes vinte e quatro horas
que posso esperar de dois mil e treze
se não me restam que vinte e seis dias
neste mês do carnaval

e os matemáticos não voltaram às aulas

Rio, fevereiro de 2013