"Porém, pera cantar de vosso gesto a composição alta e milagrosa, aqui falta saber, engenho e arte." Luís de Camões ... assim encontrareis aqui palavras magoadas a tornar o fogo frio e dar descanso a minha alma condenada ...
terça-feira, 17 de junho de 2008
MISTÉRIO
deixei perderem-se momentos
segundos e minutos
tantos
areia que se esvai
clepsidra que me domina inteiro
como hidra
e tudo o tempo perde
o que ficou
o que sobrou
mistério perecível
como o vento
Londres, junho de 2008.
VERSOS?
perco-me no mistério dos versos
escrevo sem os ter na lembrança
doces melancólicos duros pessimistas
existem
deuses não há que os inspirem
nem o passado nem o destino ou o fado
nem sou eu que os pense
o que são os versos?
Londres, junho de 2008.
TERNURA
os instrumentos são meus
mas o piano
só tuas mãos de ternura
soam a música que é tua
Londres, junho de 2008.
NEVE
a neve não é fria
mas o que gela
é a vida
se é neve é branca
branca como um somatório de cores
Londres, maio de 2008.
PAREDES
há paredes que não dividem
porque não fecham de ambos os lados
mas a porta intimida
os desavisados
Londres, junho de 2008.
SORRISO
talvez tenha sido assim que sorri
só foi o tempo de descobrir
que lá fora [ou aqui dentro]
havia gente
Londres, junho de 2008.
A CHAVE
fiz uma chave da porta
mas não a abri
estava escancarada
julguei que me enganara
nunca conseguira entrar
e tampouco sonhei
que fora Kafka
como sobra de sonhos
tudo depende da prova
e do desenho da vida
de alguém que namorou o vento
vi imagens claras
de muita gente feliz
fui capaz de entender
porque não entrara
aquém da porta
não havia ninguém
exceto eu e a chave
Londres, junho de 2008.
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