sábado, 24 de janeiro de 2015

NOTTURNO



[ao som de Chopin, Noturno Opus 9 número 2]

hoje a paz é tão triste
saudosa da noite que se foi
onde esperança falta
do que não se conhece
do que não se esquece
à luz da consciência baça

o sentimento noturno
é suave no mistério que me abraça
e o som de um piano insiste
em mi bemol maior 
silencioso e triste   

Rio, janeiro de 2015



DO REI QUE NÃO FUI



por quem vivo bem sei
em meu pensamento
onde há paz e conflito
em sombra do que é 
na imaginação suspensa por convicção

estou sossegado no tempo
tudo podia ter sido
antes da chuva depois do vento
para matar-me na esperança
de um amor que morre e renasce 
nisso que é verde e azul 
valeu a pena e não desata

pouco importam as nuvens 
que se movem e não deixam rastros
uma onda
que incendeia à hora do crepúsculo
e sim morre
morre desta vez e fala ao céu
da solidão do amor e seus descaminhos

já tenho saudade
da mulher que tenho
dos filhos e netos que fiz
da gente que incógnito fui eu
saudade do sentimento estrangeiro
do amor e do esquecimento
saudade de onde passei 
do tempo que passado ventou
do mar que imenso se abriu

não não esqueço
deles na curva da esquina
da vontade nem sem razão
de tudo de todos de um que foi outro que amei
do rei que nunca serei

tudo no destino é olvido
do que hoje é mistério
em palavras de um mero poema

Rio, janeiro de 2015