"Porém, pera cantar de vosso gesto a composição alta e milagrosa, aqui falta saber, engenho e arte." Luís de Camões ... assim encontrareis aqui palavras magoadas a tornar o fogo frio e dar descanso a minha alma condenada ...
quarta-feira, 30 de maio de 2012
SETE ANOS DE PASTOR
ah essa mania de buscar palavras
para desenhar um verso desafia
o tempo e o poeta
não reflete o nexo
entre o som e o sentido há o abismo
e o eco que sete vezes recambia
o mesmo som em sete formas
do que pensa inconsciente
sete sons sete palavras
sete dias sete anos
sete ilusões em sete vidas
sete e o que me diz a metafísica
pudesse eu em sete anos
perpetuar minha alegria
setenta e sete bastariam
sete anos de pastor ainda eu viveria
Rio, maio de 2012.
PESADELO
[de um tema recorrente
em meu livro "Nel Mezzo del Cammin"]
de corpos como sombras
solitárias
no frio horror de suas vidas
o sonho pesa o equilíbrio
tornando o gesto repetido
percepção
de ver passar desejo vão
por amor de hesitações
entre sexo, ódio e traição
não vejo atrás da esquina quem ficou
mas sei que repetem movimentos
para encontrar o nada
exceto uma ilusória obsessão
pela escura noite do outro lado
curioso e constrangido
vislumbrei a sarjeta enodoada
do abandono de toda intimidade
no frio do descaminho e desamor
ah o terror da cena
de movimento decidido
sem qualquer certeza
exceto fingir
um presente vago de incerteza
o sono é testemunha desse drama
pesadelo de mais tristeza que horror
Rio, maio de 2012.
quarta-feira, 23 de maio de 2012
LABIRINTO
impromptus
em conversa com o poeta Fausi Kalaoum
está em mim o labirinto
nem o de Borges não o de Pessoa
mas o que me desafia
dele perdi de vista a entrada
sem ver saída
disperso no descaminho
entre inferno e paraíso
pertenço àquele gênero de homens que não são
nunca foram nem serão
do que é porque não quer mudar
nem alma tenho
sou presa da fuga do prazer
uma espécie de febre que me queima as entranhas
deixando vazio o arcabouço
calabouço da alma que teima em não partir
parece sinfonia de Beethoven na surdez
mas é melodia que suave desiste de soar
gozo que emociona
na ilusão de pensar
vivo a incoerência da alegria
porque me mato cada dia
a sonhar com o amor e o prazer
e pensar
em meio à culpa de ser velho e me perder
Rio, maio de 2012.
REALIDADE
pouco penso quando escrevo
não por horror ao pensamento
mas por amor às palavras
a realidade é sonho [dizia o poeta]
e música [direi eu]
submetida a sentimentos
do andante ao staccato
e assim escrevo sons da ilusão
Rio, maio de 2012
segunda-feira, 21 de maio de 2012
RIO+20
Visite [ficarei envaidecido] meu BLOG
" www.vagaprosa.blogspot.com "
Ali tenho replicado artigos de minha autoria publicados na imprensa sobre a Conferência Rio+20.
quinta-feira, 17 de maio de 2012
segunda-feira, 14 de maio de 2012
ENTENDIMENTO
o entendimento surge do momento
supera a palavra
magicamente existe
quando nos olhamos nos olhos
e silenciosamente nos aproximamos
conscientes de tudo
ficamos os dois sem palavras
inconscientemente
deixando revelar-se o mistério
de estarmos juntos
Rio, maio de 2012.
domingo, 13 de maio de 2012
AUSÊNCIA II
domingo, 13 de maio de 2012
...divagando sobre um tema de Drummond...
AUSÊNCIA II
a ausência de que falou Drummond
não é falta
mas "um estar em mim"
não entendi o saque do poeta
mas hoje percebi a ausência
como a beleza da flor
que me encantou
a flor estava lá e lá ficou
um dia murchou
e se desmanchou
mas a beleza dela
continuou em mim
tanta coisa encontro em mim
mas lembro cada uma
uma de cada vez
são pessoas coisas emoções
cuidados zelos carinhos
interesse e atenções
gente me produz difusa ansiedade
amores ódio algum desgosto
imagens às vezes confusas
guardadas em mim
há ausência que me remete ao passado
ou me agita o presente
mas temo horrivelmente
a ausência que venha a sentir no futuro
de quem está hoje comigo
ou dos poucos que virão
ainda
e no tempo que resta
não estarão junto de mim
Rio, maio de 2012.
A GLIMPSE
é curioso o tempo
que não se conhece por antecipação
mas quando chega
revela-nos em um átimo
se atentos
sua essência passageira
assim a sensação de ser feliz
que é um instante roubado
da realidade
Rio, maio de 2012.
sábado, 12 de maio de 2012
OUTONO NO RIO
ah este outono no Rio
de temperaturas amenas
céu azul praias imensas
tudo tão claro
tudo tão feliz
nos ventos que trazem frescos
o silêncio do mar
quem quer saberá sentir
esse prazer de viver
o que mais amar?
Rio, maio de 2012.
terça-feira, 8 de maio de 2012
FÁCIL REFLEXÃO
setenta anos passados entendi
que não havia entendimento
consciente de que vivi
um tempo de sentimento
ri chorei muitas vezes sofri
hoje procuro o essencial
mas na contagem geral
ganhei mais do que perdi
mas a vida é isso mesmo
nada que machuque tanto
caminhando passos a esmo
para chegar ao fim no entanto
conformismo diria um
cinismo outro calaria
razão nenhum tem
viver é quase sempre alegria
Rio, maio de 2012.
segunda-feira, 7 de maio de 2012
TESTAMENTO
colhendo ventos passei parte da vida
não vieram tempestades
mas nada guardei do que colhi
e pior
escaparam pelos fundos
a zunir
comprei um cesto para água
busquei água pura da fonte
cuidadosamente
mas o cesto permaneceu vazio
criteriosamente
assim ao aproximar-se o fim
deixo em testamento
um saco de colher vento e um cesto
com a condição
de que meus herdeiros
lembrem-se de mim
Rio, maio de 2012.
RIMA?
fui ler Drummond e aprendi que gula rima com medula
espinhal óssea supra-renal
mas não entendi onde entra a gula
talvez como excessiva fome essencial
ou será o gosto especial com iguarias
na dúvida voltei a formas livres
de poetar em versos sem rimar
esgrimindo palavras
entre conceitos sabidamente líricos
como dor e amor
tristeza e beleza
ideias e prosopopeias
mas ironia
de repente percebi que rimava
[aqui atrás]
repus a máscara
sério sorri
Rio, maio de 2012.
domingo, 6 de maio de 2012
PALAVRA LIVRE
perplexo não digo qualquer palavra
digo entretanto uma palavra qualquer
que me sai dos lábios
e se escreve em letras
surpreendendo-me na liberdade
que não tenho livre
qualquer palavra não me desperta
uma palavra qualquer instiga-me
porque foi dita
e foi escrita
como numa fuga sem toccata antes
essa palavra é ilusória
parece que me pertence
mas está no ar
não a leiam sem compromisso
que elas comprometem
muito menos quem a disse
do que o leitor que a recebeu
entendam-na se puderem
o que não posso eu
Rio, maio de 2012.
O INFINITO
muitas vezes dobrado no finito
não me dobrarei no infinito
um são meses dias horas
outro minha natureza
essa é minha razão
nenhuma desilusão
assim fui
e contudo sou o que me tornei
a caminho de onde não sei
entendo que não terminarei
Rio, maio de 2012.
AUSÊNCIA
ao teu lado estremecia
porque sentia
que nada tivesse para te dar
era verdade
mas não o que queria
e me castigava
a distância nunca foi estar longe
mas ausente
ainda assim te amava
Rio, maio de 2012.
POETA
poeta é muito chato
só pensa que escrever poesia
extensa inútil passageira
enche a vida
mas não enche não
Rio, maio de 2012.
LAGARTIXA
definitivamente estava apaixonado
arrastava-se como uma lagartixa
aos pés do ser amado
um dia bateu horror
Rio, maio de 2012.
CANÇÃO
a fama chegou e arrasou
a alegria que se via
na dança que ele dançava
enquanto ensaiava a letra de uma canção
no fim tudo era vão
Rio, maio de 2012.
RESFRIADO
então ele disse que a amava
assim como se ama em baixo de uma jaqueira
esperando a jaca despencar
feito um limão
pra tudo ser azedo
como manda o coração
foi quando ela disse que isso não era nada
apenas um resfriado
Rio, maio de 2012.
sábado, 5 de maio de 2012
O QUE SERÁ O POEMA?
caminho a trilha dos poetas em busca de palavras
cada dia
encontro o som que me extasia
paro a ouvir a imaginação
testar a frase como ideia
sem perder o controle do que pensei
jogo aleatório conjuga no ato de escrever
o som e a palavra
sempre o ritmo que sinto dentro
penetrando a intimidade
que se lança fora
inadvertidamente
o ato de pensar cessou
a palavra ficou
a frase registrou
o som ecoou
será isso o poema...
Rio, maio de 2012.
SONO
intermediando dias
a alma fala do real interrompido
às noites tornadas fantasia
um vento leva ao sonho
e à lua do outro lado
tudo é difuso no sono
claridades ofuscam o entendimento
morte passageira
entre sonhar e ser
a dor agita as águas da memória
turvas ainda ao despertar
a vida sobe a suspirar à tona
o ar que alivia
enigma da consciência
qualquer coisa fica
talvez o amor que contagia
a vida retoma madura
o desejo de existir
Rio, maio de 2012.
sexta-feira, 4 de maio de 2012
LUA ALTA SOBRE PEDRA RASA
lua alta sobre pedra rasa
prata no mar
noite de equívocos
sob o luar que me cega
estrelas imaginárias
a quem confesso o que sou
sem jamais ter sabido se fui
pedra quase rasa
batida do mar
posso chamar-te assim
[saudade]
desde que te encontrei
senti que tu me encontravas
enquanto fugia
dirás é tempo ainda
o que não é
mas fantasia
pensar é desejar ter
o que já foi
mas não é mais
lágrimas derretem o espelho
sou assim
no que é noite às vezes
sem alegria
lamento ultrapassado sobre a pedra
onde chora o mar
no torpor que me tomou o tempo
um sonho me doía
estrangulado
lua alta sobre pedra rasa
o tempo consumido
rio que corre para o mar
dói
Rio, maio de 2012.
quarta-feira, 2 de maio de 2012
ASAS OU VELAS [VELAS E ASAS]
asas voam liberdade
a claridade inviolada
como velas navegam
altas e brancas
a rota sem rumo
de não chegar ao fim
em voo não há brumas
à noite nenhuma solidão
flutuante entre o que fui
e o que sou
vejo o mar
e horizonte ao fundo
espaço sob azul
velas e asas nada mais
navego onde termina o tempo
tudo somei nada perdi
consciente da brisa que me eleva
e sopra ainda
se medisse sentimentos
mediria o sol que me ilumina
o céu aberto
assim na curva imaterial da alegria
presente
tão jovem tão velho tão gente
vou que a curva é da descida
neste voo de chegada
a um lugar que não sei
velas enfunadas
asas
o que sei deixo no espaço
vazio de meus versos
Rio, maio de 2012.
terça-feira, 1 de maio de 2012
MEUS OUTROS BLOGS
VAGAPROSA - alguma prosa, conversa séria e conversa fiada
http://vagaprosa.blogspot.com.br/
ITALIANITÀ - blog fechado, sobre minha vida italiana
http://ricordanza.blogspot.com.br/
O QUE SOU
a tarde cinza voa com a gaivota
suave silenciosa passa
e aqui à beira-mar
insiste em pulsar
meu coração
e sem querer deixo passar
tudo que fui
para não viver nem o que sou
Rio, maio de 2012.
IMPROMPTUS
mais grave que a dúvida é a certeza
que tudo diz sem o saber
e tudo meu incerto e dúbio
não sabe nem mesmo ser
perdido no pequeno da visão
o que vejo é tudo
e é tão pouco
o que me pede o coração
diante de mim o mar imenso
por sobre um céu infindo
e sou só sem desejar
exceto o que é meu sentimento
por isso sem certezas já duvido
do que vejo e do que sinto
por tudo que em pensamento
sei que finjo sei que minto
"Impromptus", primeiro de maio de 2012.
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