sexta-feira, 20 de abril de 2012

APÓS MICHELANGELO



próximo à noite silenciosa 
um corpo espera o meu desejo
e nada me prende alcançá-lo
exceto a vida


reconheço nele a ternura
e a beleza equilibrada e pura
após Michelangelo o Davi
que me fustiga


reconheço
a delicia de sentir
o apelo dos sentidos
e me castigo


estremeço
o amor que tenho no poema
sonha contra o vento
arde


Rio, abril de 2012.  





AMOR ETERNO



[de um esboço de 2006, Roma]
sei porque te quero
vem junto comigo
para conhecer o desejo


deixa passar as águas
ficaremos a nos olhar cristalinos
luminosos de ternura


se vivo onde nasce o sol estou contigo
tranquilamente pensando em um novo dia
e o mar imenso para navegarmos
juntos eu te queria


somos quem deixa correr as águas 
inocentes diante das margens frias
levando apenas instantes sem razão
nós ficaremos


é do amor que falo
do nascer do sol sem o poente
que duradouro será o nosso dia


Rio, abril de 2012.





PALAVRAS [bis]



de onde vem o canto
entoado cada dia


pedras não flutuam
nem a brisa leva
transformar o canto em pedra?



palavras 
como se a brisa soprasse
não regressam





Rio, abril de 2012.