sexta-feira, 24 de julho de 2020

PANDEMIA




Algum dia
Será outro dia
E haverá nova vida
E porque será todavia
Se não esquecer o destino
Ou o fado desconhecer
Poderemos viver
Sem qualquer desatino

Quando os deuses abrirem as portas
Na sequência dos fatos
Quando chegar a hora
Não sei se me engano
Se sonho ou se penso
Lembro que pessoas cruzam caminhos

Quando
Se
Quando os deuses
Se os deuses
Nos devolverem as almas

Comerei alcachofras
E talvez
 Talvez a gente se encontre

Rio, julho de 2020

DEPIDEMIA



pobres dias depidemia

preso-gente-só

hoje-um dia
o mesmo ontem
amanhã
que será
depois de amanhã

não não é por razão
chegou

que sensação
não serve de nada
importar-se com a humanidade
parada

lembro de tudo
de tudo esqueço

não consigo ser humano
ser humano morre 
resta a nostalgia
de não ser
talvez matar-não morrer

pensar não pensar
o pecado de confessar
sentimento de mundo
deserto profundo

cheiro do mar
cheiro-de-vida

porque não me queixo
porque foi comigo
esse
viver para não morrer

vil viver  
vileza de sobreviver

Rio, julho de 2020