quarta-feira, 23 de maio de 2012

LABIRINTO



impromptus
 em conversa com o poeta Fausi Kalaoum


está em mim o labirinto 
nem o de Borges não o de Pessoa
mas o que me desafia

dele perdi de vista a entrada 
sem ver saída
disperso no descaminho
entre inferno e paraíso 

pertenço àquele gênero de homens que não são 
nunca foram nem serão
do que é porque não quer mudar 

nem alma tenho
sou presa da fuga do prazer
uma espécie de febre que me queima as entranhas
deixando vazio o arcabouço
calabouço da alma que teima em não partir

parece sinfonia de Beethoven na surdez
mas é melodia que suave desiste de soar

gozo que emociona
na ilusão de pensar

vivo a incoerência da alegria 
porque me mato cada dia
a sonhar com o amor e o prazer
e pensar
em meio à culpa de ser velho e me perder

                   Rio, maio de 2012.

REALIDADE


pouco penso quando escrevo
não por horror ao pensamento
mas por amor às palavras


a realidade é sonho [dizia o poeta]
e música [direi eu]
submetida a sentimentos
do andante ao staccato

e assim escrevo sons da ilusão



Rio, maio de 2012