domingo, 11 de maio de 2008

ANÁLISE

conselho a um amigo

Nada pergunto
não te quero conhecer neste exercício racional
o passado ignorado só te pode fazer mal.

Se tens respostas murmure-as para ti mesmo
como pescador para que o pescado não lhe fuja
o passado é o futuro
a pedra que deixastes no caminho.

A cura de quem és parte de tuas convicções
lá no fundo do teu eu.

Desvenda a pedra
serás dono de ti mesmo.

Londres, março de 2008

IMEMORÁVEL



desmemória
tudo que esqueço é limiar de tardias lembranças
memória que a sentir me lembro
densa em deuses e heróis de um olimpo ultrapassado
sombras que aceito sem mais nada
entre fraquezas de quem vende imagem
a custa da verdade
Será este conto imemorável?

Londres, outubro de 2007.

FÚTIL



perplexidade de não descobrir a palavra desejada
sílaba por sílaba a tornar-se idéia

não sossego na incerteza da letra em queda oblíqua
no foco de meus olhos
não me aquieto
não me excedo em gestos
morro devagar
na inútil busca do contexto
que não encontro neste texto fútil.


Londres, março de 2008.

EXPLICAÇÃO



fôssemos nós imortais e não haveria ilusão
o tempo nos daria a palavra e o gesto desejados
a trêmula alegria passageira
instante e sentido de viver

o gesto é coração a ira é explosão
do esforço de comunicação
a palavra ah a palavra
sem ela nada explicaria nada
do sem sentido e sem razão


Londres, março de 2008.

INSTANTE


minha poesia complicou o que não disse no que disse
da pedra mais pesada que o ar
tentando flutuar

fez drama da comédia
por pouco não desaba em tragédia

mas escuta
escuta que ainda tenho coisas a dizer
só não digo o que não tenho
palavras
em cena de realidade mas sem vento

e vem o tempo com o instante de viver
na hora de encontrar quem não se quer

Londres, maio de 2008.