encerro a vida como quem não começou
apaixonado e carente desejando mais
nunca saberei o que fui
tal como não sei o que tentei
tudo me parece igual no final
nada ou quase nada resta a dizer
exceto que eu amo
exceto que eu quero
exceto o pensamento pronto
para o que vier
o passado é galardão em caixa fechada
ressalto nele a experiência
que agora não me serve de nada
honrarias trabalho recordações condenadas
livros não lidos escritos não terminados
romance de interior catalogado
célebres ou perdidos na desmemória
restam alegrias embaçadas
no tempo que não retorna
o presente é fugidio
cada dia na intensidade adequada
para não perder o fio
da meada que se enrola
passa e desaparece
no momento mesmo que acontece
é imperfeita a vida
salvo no sopro em que ligeira passa
salvo no instante iluminado em que se ama
a própria vida
salvo no vigoroso teste da esperança
salvo
salvo em tantos momentos
de que desisto porque desaprendi de viver
Rio, agosto de 2013.