quinta-feira, 29 de maio de 2008

SENSAÇÃO






sufoco!
o ar que me falta impede-me de pensar
na ilusão de tantas sensações

coisas passadas
algumas sigilosas
quantas presenças
deixaram de alimentar meu coração
mas durarão a duração do tempo
como vento
além do esquecimento...


Londres, maio de 2008.



CULTO




Quem sou já não posso medir
mas sou um homem vivido
um rosto
cristal lapidado na experiência
tramado nos sonhos
translúcido sob a baça luz do poente.

Tardio tempo de antecipadas decisões
que jamais tomei
não me permite o que poderia ter sido
no movimento de astros
imprevisivelmente previsíveis.

Contenho-me diante da noite que o crepúsculo prenuncia
a decifrar naipes embaralhados
e meditar sobre a próxima casa
antes de mover pedras no tabuleiro
da dúvida e da quietação.

Estranho o que me é dado
desconheço o que produzi
não ouso supor o que será
apenas
debruço-me sobre o tempo.

Vaidade não há
transpus os umbrais dos sentimentos mortais
e não pretendo o Olimpo
que sou apenas homem a perseguir o inevitável.

Nunca saberei o que se passará
outras formas outro ser outra dimensão
outra face de vida transbordante
sensível mas invisível
como o vento.

Acima da verdade sobrevivo abaixo
a realidade adquirida
na percepção das coisas independentes
dos deuses ou das gentes
no eterno culto da vida.

Londres, maio de 2008.