quinta-feira, 14 de julho de 2011

DOIS


tu sabes o que é beleza
sabes bem que tua alegria encanta
és natureza 
nada te substitui

como a nascente não dispensa água
como a torrente acarinha pedras
como o rio busca o seu mar
só a ti tenho para amar

como se fosses toda a vida toda
tu me vês por dentro
mas não perguntes
escuta
o coração que bate novo
e diz - te - amo

bem sabes que de ti quero a verdade
tu que em minha vida entras
e uma vez dentro
que importa o que vai lá fora?

concordamos discordamos
somos dois
mas tu "sabes que é tudo amor" [1]


Rio, julho de 2011.


[1] José Regio, Lírica


NYDIA BONETTI

para Nydia Bonetti

nasci para morrer
e não estou só nesse mistério
mas sozinho estou dentro de mim

os que vieram antes testemunham
que "isto é nem morrer de vez
nem também sentir-me vivo" [1]

mas assim é tudo
na mesma história que se repete
o que me enleia é claridade cada dia

digo-te sem medo
está na poesia nossa alegria
deixa-te estar poeta
canta

Rio, julho de 2011.


[1] José Régio, lírica

PAIXÕES







vivo de paixões que não sei amores
ressuscito a cada passo
o fogo que fustiga
para queimar-me açoites


fico mudo nem uma frase digo
enquanto o coração antigo renovado
anseia corpos sensualmente vivos
e impotente grita - amo


quero dizer-te tudo que sinto
mas para isso devo sentir-me vivo
e tu comigo


com que palavras terei a tua graça
com que olhos as transmitirei
se o fogo da paixão me cega


Rio, julho de 2011.



AMAR O AMOR [MEUS DIAS]





em minha vida longa amei
o sol o mar e a gente
de quem livre me aproximei
em trilhas e em todos os caminhos
para sentir onde passei
a nenhum deles perguntei
de onde vinha porque passava
ao mesmo tempo pela mesma estrada


tenho de memória os meus amigos
os permanentes e os episódicos
e deles todos a alegria
de os ter tido ou de os haver amado
guardo a imagem
e já sem ela falta tudo
em minha descoberta
de cada face de cada mundo


o cheiro da mata em que me iniciei
perfumes cores ramos flores
ainda estão dentro de mim
não esqueci o mundo
onde lúcido atento apaixonado
a mim mesmo aos poucos descobri


foi-se o tempo entre lembranças
vem o dia em que agora teço
palavras como se beijos
fossem abraços quentes e carícias
sem medo de dizer que estou aqui


e nessa faina amo 
colho flores onde há por vezes dores
sinto o mar 
revolto plácido na imensidão que tem
para entregar cada dia
e sonho às noites
estar poeta sonhador
a amar perdidamente o amor 




Rio, julho de 2011,