domingo, 31 de dezembro de 2023

FANTASIA

 


isolei-me na fantasia

da confusa vida

para deixar de fingir o que não sou

e vejo

 

destaco o que sinto e o que não sinto

reconheço o que deixei de sentir

em monótona busca 

do vazio de ser


aguardo o futuro curto

de um tempo excessivamente longo

que não se vê e pouco vale

nos dias antecipadamente perdidos 


severo penso na solene despedida

dispensável pois serei alheio

ao passageiro lamento


consciente em meu tempo 

fui o que pude ter sido

mas só ali me tornarei meu dono


Rio de Janeiro, 31 de dezembro de 2023





 

domingo, 24 de dezembro de 2023

PENSAMENTO

 


penso no que se aproxima
para celebrar o tanto pensar
no tempo vazio
do que foi
pouco no que virá

nada agora

sem nada no pensamento
exceto o vazio do entendimento
resta a síntese de uma vida
que supôs ilusões
às vésperas de terminar

e no entanto vivo inteiro cada momento
do tempo que reduz o que me sobra
com a única intenção
de vê-lo passar

Rio, 24 de dezembro de 2023





 

quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

ILUSÃO

 


como quem navega o mar calmo

o horizonte largo e o sol poente

sigo o dia 

que sucede outro dia

e o tempo resulta estar aqui

informe sobre as águas do mar

lentas

pouco quase nada a pensar


não me encontro no que fui

nem pressinto o que serei

passado e futuro ausentes de mim

nem sou alguém se me restrinjo a mim

salvo ser eu o que alberguei

da angústia de viver


o momento fugidio póe-se como o sol

a escuridão fecha tudo quanto pode ser

e tudo é pressuposto

da ilusão que só faz morrer


Rio, dezembro de 2023


sexta-feira, 8 de dezembro de 2023

NEGAÇÃO

 


penso
no que sou
naquilo que desejei ser
em tudo que conquistei
e no mundo que perdi
não tenho razões
apenas percepções
do que foi e do que já não é
onde aplaquei a sede
ou simplesmente me afoguei
não me pertence o Olimpo
nem me atraiu o razo chão
aos que me entendem
humana saudação
nenhum mal
neste ser lógico e formal
que sou eu
Rio, dezembro de 2023.

quinta-feira, 30 de novembro de 2023

VIDA

 


curto é o tempo
que a vida determina
oitenta são mais anos
se lhe acrescentamos três
pensando nessa passagem
resta pouco
desta longa viagem
densa
talvez intensa
mas o vento soprou o rio já passou
quase nada sobrou
a vida é uma questão de sorte
vale que vivamos
na alegria da tristeza
de dar-me o tempo que sobra
a mágoa de um mero poema
muito me deu este mundo
em tempo de edificar
pouco me resta
no entanto
exceto um momento de amar
é só uma questão de vez
Rio de Janeiro, 30 de novembro de 2023
Todas as reações:
Anand Sampurno, Rosario Lopes e outras 2 pessoas

quarta-feira, 29 de novembro de 2023

DÚVIDA

 DÚVIDA



se existo não sei
hesito
inútil
insuficiente
fútil
nem sei
nem sabem
se sou alguém
ou ninguém
indiferente ao caminho
rumo sem direção
sozinho
sem nem alma ou coração

Rio, novembro de 2023.

segunda-feira, 6 de novembro de 2023

Quem...

 



o que fui esqueci

nada no que sou

resta em mi

neste que sobrou


sou ninguém

nem outro

nem

quem possa lembrar de mim

e resultar no eu

que o tempo corroeu

porque sou assim

 

sombra viva ou semi

ronda ao derredor

escuro passado

do qual me demiti

 

Rio de Janeiro, novembro de 2023


sábado, 28 de outubro de 2023

VIDA SECA

 


em branco passam meus dias

nada me guia

nem me desafia


que fiz de mim   [FPessoa]

nem eu sei

lembranças fiz memórias

da mágica de existir


tive mais caminhos do que um

do claro céu ao nevoeiro

mas deixei falasse a natureza

segui sem paradeiro


o que lembro congelou

a memória derradeira

o que vivi calou

e resta árida e seca a vida verdadeira


pronto a acabar levado pelo vento


Rio de Janeiro, 28 de outubro de 2023

INÚTIL SER

 



penso quando escrevo
poema escasso
tudo é pensamento
e fracasso
não é o momento
palavra que me procura
sabe que estou morto
mas eu sinto
o que em mim vive
alma externa ao corpo
que me finje e minto
volto minha atençao para o que fui
e não sou quem desejei ser
sou eu mesmo o outro
que ainda insistentemente
sou

Rio de Janeiro, 28 de outubro de 2023

domingo, 15 de outubro de 2023

IMPROVISO

 


Nada penso
Existo vagamente
Enquanto nasce o sol ou brilha a Lua
É um vago viver cheio de saudade
Vazio de fatos relevantes
Saudade de minha casa de menino
E da chuva que molhava o chão de terra
Saudade de tudo que passou depois
E me ilustrou
E nada existe mais
Mas a lembranca triste da alegria que passou…

Improviso, Flavio Perri, em 15 de outubro de 1923.

terça-feira, 11 de julho de 2023

ESCREVER

 



escrevo

não escrevo

leio

releio

rascunho

revivo



atroz

dúvida e vida





PARTIR

 


Ah se eu tivesse

o dom de prever

e anunciar

o tempo de partir


nem a lua pode

transcender 

o tempo de girar

e crescer


nada posso


mem vivo 

sem pensar

sexta-feira, 28 de abril de 2023

CHORO

 


Choro 

choro de poucas lágrimas

pela vida e pela morte

que em pouco vem

tempo

pouco tempo

menos que cucos cantam


cacos

talvez nada

resumo já sem choro


tanto tempo humano

não vivi.  


Rio de Janeiro, 28 de abril de 2023

sábado, 25 de março de 2023

SEM TEMPO

 



nem certeza
nem qualquer precisão
sobre o tempo
passa
poucos rastros deixa
e ficamos pratrás
sempre acreditamos que temos tempo
mas ele é rápido demais
desisti do tempo e vivo seu terreno
mas ausente
no espaço
onde não se mede a duração
mas a extensão
tomar conta do espaço é tudo
e deixa rastro
Rio 25 de março de 2023.
em qualquer direção
Curtir
Comentar
Compartilhar

domingo, 19 de março de 2023

SONHO/VIDA?

 


sonho vida não vivida
alegria inconsciente assistida
nem dura nem cura
mas recria a imaginação
como escolhida canção
e alma pura
de que vale sonhar
se desperto
e recomeço a me arrastar
no dia-a-dia deserto
à espera do sono chegar...

Rio de Janeiro, 19.03.2023