domingo, 25 de dezembro de 2016

O TEMPO



é azul o mar que vejo da janela 
reina a paz em suas ondas preguiçosas
na indecisão de seu silêncio

uma doçura inquieta  em minha vida incerta
escuta-lhe o sussurro manso
supersticioso a trair os meus segredos
indiferente à inquietude do presente

é outro o azul do céu de gaivotas brancas
onde habitam deuses 
promovendo cultos e orações em nosso peito
nas quais palpita o impreciso do futuro
e vive alerta o aceso da esperança

falta pouco sinto o tempo
a esgotar a seiva que circula dissonante
no bater de um ritmo hesitante
a soprar o vento

foi-se a juventude bela
soprada pela brisa constante e insistente 
esqueço a cada instante a alegria dela

é um novo tempo que não canto
por ser velho e cinza o desencanto

soa forte cada dia o presságio de outros tempos
armadilha da ilusão
que é a vida

Rio de Janeiro, 25 de dezembro de 2016

sábado, 24 de dezembro de 2016

IMPROMPTUS


aos amigos, neste Natal, via Lauro Moreira


da sua presença e do espírito em festa
tiro de improviso a frase incerta
e nem melhor nem mais certa
será a lembrança do vil esquecimento

não mudou o Natal sempre fui eu
descrente mas supersticioso prego 
o amor e a paz guias supremos
"que ora se separam ora se ligam"*

não repete a vida duas vezes
a alegria e o pranto
iguais na presença e na saudade

a realidade existe o virtual persiste  
a perplexidade domina o pobre crente
mas o coração insiste e lembra amigos

* Eugenio Montale

Rio de Janeiro, 24 de dezembro de 2016

quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

DESPENHADEIRO




nesse caminho há um fim
chega sem anunciar
hora ou lugar 

mas no ritmo de meus passos
inda não quero chegar

o inevitável fado
não é domínio de ninguém
mas tantas coisas me prendem 
nem vale a pena pensar

entretanto é só dele esse ponto
entre forças contrárias do vento
no titubeio que é meu
  
outro fui outro sou
e nada tenho nas mãos
nessa trilha de um caminho
que se não quis eu trilhei

como ramo que se curva ao vento
reconhecerei o momento
e não o temo
no meu delírio vital

no desolado do tempo
sou quem consciente despenha
entre cardos e poeira
inconsciente no ar


 Rio de Janeiro, 22 de dezembro de 2016.