a casa é simples o coração mais complexo
porta para os amigos fechada a desafetos
janelas para entrar ar e olhar
pouco dinheiro para ocupar prateleiras pela metade da fome
a casa é branca caiada corações janelas portas azuis
a sala vazia do escasso sofá de modo a que sempre caiba ventilador e TV
a cozinha é coração cansado de tanto bater
da mulher com olhos de espera cansada do que pedirão
o ladrilho do chão falta aos pés que os pisarão
juntam água lambendo paredes negras de fumo
sob luz sobre sombra
no quarto cama trazida de onde não sei
um homem dorme em silêncio ronca quieta tensão
outras camas juntadas demônios ou anjos da noite
sonham em segredo vento quente verão
vagas pessoas na sala cerveja quente na mão
sem dizer de onde vêm não anunciam onde vão
no quintal nada se passa exceto o cão a ladrar
mangueira que não dá manga galinha ligeira mais magra
escrevo
e tu a me ler
Rio, março de 2012.