que os ventos que nos levam
tragam a ventura do presente
Rio, 9 de abril de 2024.
"Porém, pera cantar de vosso gesto a composição alta e milagrosa, aqui falta saber, engenho e arte." Luís de Camões ... assim encontrareis aqui palavras magoadas a tornar o fogo frio e dar descanso a minha alma condenada ...
nasci porque sonhei viver
como um entendimento pessoal
intransferível e vazio
tal que o espaço sideral
existo e resisto
o sonho persiste
ainda vazio e intransferível
impessoal
e o mistério de quem sou
nada sei de mim aos oitenta e três
nada
ainda que com toda estranheza
pleno de incerteza
sou apenas o que fui
em sonho
quem serei
Rio de Janeiro, 05 de abril de 2024.
canto o amor
a quem quiser a minha dor
ao fim da vida que me é devida
uma juventude fugidia
em mim resiste
à decadência triste
tudo passa
o amor persiste
Rio de Janeiro, 28 de março de 2024
quem sou eu que não sei quem sou
no retrovisor estreito
de um carro em marcha
tão rápida que não deixa marcas
mas o sopro pálido do vento
que não me dá tempo
ah quem me dera ser alguém sensível
e olhar pra traz pensando no futuro
e no real só encontrar um furo
por onde corre a água felizmente limpa
de atitudes em que fui feliz
é um olhar bom sobre meu passado
mas que se esgota ao ultrapassar tal furo
e pouco deixa exceto o pensamento duro
de ver e me iludir
com o sol brilhante da imaginação
nada é essencial exceto ter vivido
natural e honestamente o tempo
porque assim o sinto
fim que se aproxima e não me espanto
nem mereço pranto
porque assim é e a mim não minto
Rio 06 de fevereiro de 2024.
se eu vivesse mais tempo
e me perguntasse
o sentido de viver
seria talvez mais fácil
morrer e não sentir
um momento sequer do difícil de viver
sentir e não saber é suficiente
para amar e sufocar
o que sinto e minto
quero-te mas não posso
no meu verso
dizer o sentido
desse amor perverso
Rio de Janeiro, 05 de fevereiro de 2024
a escuridão do círculo fechado
de quem nada se lembra
mas talvez sinta na emoção
um amor que é tristeza
na alma toda
do vazio da cabeça ao coração
temo o vazio dos olhos que vêem
e não refletem um passado
angústia de vida
névoa sem lágrimas
num dia chuvoso sem chuva
ouço o lamento dos que me amam
ou não me amam e lamentam
a náusea da ausência de sentimento
ao arrepio da lei da gravidade
que impede triste o sentir
e esvaziam o vital de pensar
que a idade nos traga o sono
contudo não nos obrigue sem vontade expressa
a viver na penumbra do afeto
eclipse do sentimento no esquecimento
e da memória em dia de pleno sol
Rio de Janeiro, 05 de fevereiro de 2024
nada a diser sobre o Universo
que não cabe nos meus versos
falo da Terra
migalha entre migalhas
pó onde poucos sabem
mas estamos sós
Rio de Janeiro, 28 de janeiro de 2022
meu papel
é viver para nada
ou partir para o esquecimento
o segredo escancarado da vida
é nada durar
não durar ou durar talvez
para morrer
o sonho dirão
o sonho
é viver com o que se possa sonhar
com pressa
a ideia do sonho é mera presunção
sonho com o sonho
no esquecimento
nem me recordo dele
na lembrança
nem mesmo me recordo na lembrança
nem mesmo na lembrança
da desesperança
Rio de Janeiro, 25 de janeiro de 2024
it is so strange
O que foi já não é
passou
sobrevive em mim
à margem das lembranças
presentes
beleza para mim
avaro de mim mesmo
enquanto a juventude na memória
continuar a vida
restrita e pensativa
Rio de Janeiro, 07 de janeiro de 2024