terça-feira, 9 de abril de 2024

sexta-feira, 5 de abril de 2024

INDAGAÇÃO

 


nasci porque sonhei viver
como um entendimento pessoal
intransferível e vazio
tal que o espaço sideral

existo e resisto
o sonho persiste
ainda vazio e intransferível
impessoal
e o mistério de quem sou

nada sei de mim aos oitenta e três
nada
ainda que com toda estranheza
pleno de incerteza
sou apenas o que fui
em sonho

quem serei

Rio de Janeiro, 05 de abril de 2024.

quinta-feira, 28 de março de 2024

CANTO

 


canto o amor

a quem quiser a minha dor

ao fim da vida que me é devida


uma juventude fugidia 

em mim resiste

à decadência triste


tudo passa

o amor persiste


Rio de Janeiro, 28 de março de 2024

quarta-feira, 27 de março de 2024

PODER

 


Se eu nada puder
quando não puder
talvez me valha da sabedoria
de que não sou essencial ao mundo
cuja realidade é maior
muito maior do que o que sinto
e penso talvez quando estou sozinho
no passado pensei no futuro e tenho o presente
que já será o passado daquele futuro
no futuro ingrato
nada esqueço entretanto do que me fez feliz
mas não me atenho à força do destino
que me dará o que serei
e nada muda porque nada posso
minha vida é o que é
e sei que não importo ao mundo
Rio de Janeiro, 27 de março de 2024

sexta-feira, 15 de março de 2024

FINITO NO INFINITO

 


consciente do tempo já passado
lembro a lembrança invertida
do quanto na contemplação a vida passa
embora vã na vastidão perdida
o sol desperta manhãs de liberdade
na momentânea delícia do dia que começa
minuto que derradeiro é ameaça
do passar fatal de um dia inteiro
há no passado o futuro que virá
e já passou
resta o lugar em que estou
menino a homem pensante já maduro
sinto inútil o sentido do finito
finjo o pensamento no infinito
e deixo de pensar e já esqueço
o que passou
e dele
já não padeço
Rio de Janeiro, 15 de março de 2024.

quarta-feira, 6 de março de 2024

PENSAMENTO-PASSAMENTO

 


quem sou eu que não sei quem sou

 no retrovisor estreito

de um carro em marcha

tão rápida que não deixa marcas

mas o sopro pálido do vento

que não me dá tempo


ah quem me dera ser alguém sensível

e olhar pra traz pensando no futuro

e no real só encontrar um furo

por onde corre a água felizmente limpa

de atitudes em que fui feliz


é um olhar bom sobre meu passado

mas que se esgota ao ultrapassar tal furo

e pouco deixa exceto o pensamento duro

de ver e me iludir

com o sol brilhante da imaginação


nada é essencial exceto ter vivido

natural e honestamente o tempo

porque assim o sinto 

fim que se aproxima e não me espanto

nem mereço pranto

porque assim é e a mim não minto


Rio 06 de fevereiro de 2024.




terça-feira, 5 de março de 2024

VIVER

 


se eu vivesse mais tempo 

e me perguntasse

o sentido de viver 

seria talvez mais fácil

morrer e não sentir

um momento sequer do difícil de viver


sentir e não saber é suficiente

para amar e sufocar

o que sinto e minto


quero-te mas não posso

no meu verso

dizer o sentido 

desse amor perverso


Rio de Janeiro, 05 de fevereiro de 2024



sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

A PALAVRA E O POEMA

 


Penso na palavra que esconde o poema
Penso no poema que a palavra esconde
Dificil encontrá-los
o poema e a palavra
Mas ouso insistir
Sem mentir
Busco amor no coração
E amo contrapropor a canção
À palavra ao poema
Ao amor e à pena
De insistir
E mentir
Rio de Janeiro, 15 de fevereiro de 2024

terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

EM PENSAMENTO, DRUMMOND.

 


penso na vida e nas multiplas formas de sentir...
o amor é a procura
não mentir
coisa louca

há outra coisa a fazer?
não a encontro mas
te amo e a teu corpo

o amar e o amor é a vida morder
não estranhes o poeta não condenes seu desejo
que escreva que se declare
e se deixe viver
sem pejo.

Rio de Janeiro, 13 de fevereiro de 2023

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2024

DESMEMÓRIA

 


a escuridão do círculo fechado

de quem nada se lembra

mas talvez sinta na emoção

um amor que é tristeza

na alma toda

do vazio da cabeça ao coração


temo o vazio dos olhos que vêem

e não refletem um passado

angústia de vida

névoa sem lágrimas

num dia chuvoso sem chuva


ouço o lamento dos que me amam

ou não me amam e lamentam

a náusea da ausência de sentimento

 ao arrepio da lei da gravidade

que impede triste o sentir

e esvaziam o vital de pensar


que a idade nos traga o sono

contudo não nos obrigue sem vontade expressa

a viver na penumbra do afeto

eclipse do sentimento no esquecimento

e da memória em dia de pleno sol


Rio de Janeiro, 05 de fevereiro de 2024

 

domingo, 4 de fevereiro de 2024

DEMÊNCIA

 


nada sei do que esqueci
mesmo antes de pensar em saber
e perder tudo no tempo
temi
outra vez acontece uma extrema incerteza
mágoa de perder a beleza
do saber
da vida na plenitude
próximo de não ser
não sei
nada sei
sobretudo pensei
no acaso de sobreviver
à própria compreensão
virada ao avesso
círculo que se fecha
noite absoluta
perco mesmo a angústia
nessa perda resoluta
do que fui e do que ainda penso que sou
para não ser mais
sem mesmo fisicamente morrer
Rio de Janeiro, 04 de fevereiro de 2024

domingo, 28 de janeiro de 2024

UNIVERSO

 


nada a diser sobre o Universo

que não cabe nos meus versos

falo da Terra

migalha entre migalhas

pó onde poucos sabem

mas estamos sós


Rio de Janeiro, 28 de janeiro de 2022

SONHO

 


meu papel

é viver para nada 

ou partir para o esquecimento


o segredo escancarado da vida

é nada durar 

não durar ou durar talvez

para morrer


o sonho dirão

o sonho 

é viver com o que se possa sonhar

com pressa


a ideia do sonho é mera presunção


sonho com o sonho

no esquecimento

nem me recordo dele

na lembrança

nem mesmo me recordo na lembrança

nem mesmo na lembrança

da desesperança


Rio de Janeiro, 25 de janeiro de 2024

ESTRANHEZA

it is so strange 


eu penso no tempo
estranho passar enquanto se deixa ficar
mas o mesmo tempo desafia
e nos pergunta
por quê
não há de ser
ou será
o não-ser vem a calhar
quando não se pode desfrutar
do sentido de sentir
talvez esse seja o sentido
e carnal fosse amar o instante
e gozar
talvez fosse esse o sentido
com alguma razão ou sem razão
temos vidas
nossas vidas
outras vidas
ou nenhuma talvez
e morremos
para outra vida
mas há ou não há
aah
não sei nem saberei
ou saberei sem saber
fico só
comigo só
porque assim tão sozinho
posso pensar
e me angustiar
não
não é sonho
escrevo
as letras hão de ficar
assim
assim pode ser
no manicômio talvez
lúcido
sem pensar
Rio de Janeiro, 28 de janeiro de 2024

sábado, 13 de janeiro de 2024

INDAGAÇÃO

 

o mistério do dia seguinte
indaga-nos cada dia
quando o sol se põe
e a cerimônia é triste
a noite embruma-nos completamente
dormir é sentir o que há de morte em todo sono
sem a energia de cada sol
instala-se um sentimento vazio
profundo silêncio
e todo silêncio é triste
hesitante
a luz das madrugadas prenuncia o sol
para trazer-me um dia mais
um outro dia e quem sabe a esperança
que se resume em um poema triste
de que sou a sensação
forma e repetição.

Rio de Janeiro, 13 de janeiro de 2024.

domingo, 7 de janeiro de 2024

LEMBRANÇAS

 

O que foi já não é

passou

sobrevive em mim

à margem das lembranças

presentes

beleza para mim

avaro de mim mesmo

enquanto a juventude na memória

 continuar a vida

restrita e pensativa


Rio de Janeiro, 07 de janeiro de 2024



quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

NADA

 


sou um
apenas um que se confunde
no exercício de viver
se penso em quem sou
exceto o sonho
sinto um vento frio
que me abandona no seu passar veloz
e leva consigo o presente a memória e nada deixa
senão um futuro incerto
onde talvez não me encontrarei
por onde passei fiquei
mas nenhum rastro deixei
senão aquele instante esquecido
que nada distingue
e cessou

Rio de Janeiro, janeiro de 2024.