domingo, 31 de julho de 2016

TERRA À VISTA




todo dia é cada dia 
somados fazem completo o tempo
só ao final sabemos
quando lembranças filtram momentos
e a memória faz-se inteira

os outros são poucos
na solidão das multidões da vida

as rotas são finalmente um caminho
e o trilhamos no andar lento
de quem chegar não pensa
ao avistar seu porto

Rio de Janeiro, julho de 2016

domingo, 24 de julho de 2016

LEMBRANÇA




se tudo for nada

nada seria a vida
seríamos apenas memória 
do que terá sido muito
que em outro momento
em outro tempo
igualmente vivi

fui herdeiro de um passado denso

imortal pelas memórias de outras vidas
que povoaram meus dias
e a imaginação

todos que me precederam 

me ensinaram tudo 

sou saudoso

das coisas que tive
e nem sempre guardei
mas amei
delas me lembro sempre
não como passageiras
mas pertences da alma

deles trago o que sou

tutelado de suas histórias
que contaram vidas também nossas
em terra estranha encantados

fábulas sem as quais não vivemos

contos histórias poemas
sonhados foram verdades
em cada momento presentes
sem eles estou ausente
a mim mesmo sou estrangeiro

se esta for minha hora

só peço o que hoje tenho
que é nosso
a consciência de tudo
ainda que seja nada

Rio de Janeiro, julho de 2016


sábado, 23 de julho de 2016

VERDADES x PALAVRAS



para Nydia Bonetti



verdades são abismos tragados por palavras
nem uma vinga
nem a verdade nem as palavras
sossobram no desconhecido do tempo


Rio de Janeiro, julho de 2016

quarta-feira, 20 de julho de 2016

TEU EU





desço a ladeira  

sabedor do que não sabes
do muro do horizonte desonrado

é pouco ir além

nada é avançar
se não cresceres

vivesses o essencial
na trilha que te destes
estarias no rumo
do entendimento

hás-de repintar o que te encobre

não para seres público
mas para como a água de um rio
ignorar as pedras do caminho

não te reveles 

deixa às margens o que passa
e corrói teus dias
a vida é fugaz 

simples sóbrio verdadeiro

só teu eu te ilumina


Rio de Janeiro, julho de 2016



    

PERPLEXIDADE




no que sou perdi-me
mais seguro estive enquanto fui
uma ideia vivida
que não me ocorre mais

dominado pelo transladar do sol
passageiro da luz que se mitiga
o que pressinto nada vale
no escuro da noite lunar

com o pensamento posto no presente
nem o passado sinto
mas o medo do que não sei

sou eu no claustro em que me resta
esse silêncio aterrorizante de pensar
o inevitável impulso do fim  

Rio de Janeiro, julho de 2016