quarta-feira, 31 de outubro de 2012

IMPROMPTUS


penso na pergunta que não quer calar
mas sem resposta 
na lembrança da alegria de tantas mágoas

no belo feio de meus tantos anos
passado de cuidados do futuro
do amanhã na véspera de ontem

tudo é tempo
pedra ancorada no vagar do sempre
que não será se estou aqui
a cogitar do lá
em si maior
sem fugir de mi [menor]

Rio, outubro de 2012















MINHA JANELA


seis horas da tarde de um dia que se vai sobre os dois irmãos
e eu contemplo o fim laranja em segundos
sem terceiros para a beleza do que suponho
o paraíso último de tantos círculos
de um calendário saltante de minha janela
aberta ao contrário para o amanhã
e as ilhas solidárias em arquipélago
só para não ficar sós 
Cagarras cruéis à distância do farol da barra
ilha iluminada para perdidos na solidão do mar

de minha janela pulsa vida lá e cá


Rio de Janeiro, outubro de 2012



domingo, 21 de outubro de 2012

FICAR OU PARTIR?

não parto
como às vezes parece acontecer
mas enquanto o momento não vem
gozo o prazer de existir
assim penso em tudo que vi
e sinto intensamente o que vivi

talvez seja essa a beleza
a persistentemente florescer
entre nascer e morrer 

Rio, outubro de 2012.

sábado, 20 de outubro de 2012

UM NOVO DIA




entre o sono e a realidade
desperto 
é manhã
sob azul

a distância toca o mar
em sonho ainda
a sensação de reviver
o tempo finito e o tempo sem fim

tanto por fazer
todo o prazer
ao inútil dever
nesse enleio lembro vagamente tudo

sonho com o sol
para aquecer
minha solidão
e tenho um dia inteiro ainda
para viver

Rio, outubro de 2012

domingo, 14 de outubro de 2012

PALAVRAS [moto contínuo]


nem sei o que pensei ao escrever
palavras como um rio
passam sem deixar história
seixos a rolar

mas aí pensei palavras formam frases
frases são quando não mentem
e dizem o que pensamos mesmo sem pensar

à minha frente passam velas
longe
velas que não querem ancorar
e passam brancas e belas
mais que frases
são pensamentos a voar

o ar a imensidão do mar
e tudo lembra escrever
um poema uma palavra
apenas o que tentei 

não me farão esquecer a pena
o sono que me revela o sonho
como areia a se desfazer na praia
e desmaiar palavras em um poema 
um gesto apenas de amar

[escreveria sem mesmo hesitar horas e horas sem parar que palavras atraem palavras mesmo que nada tenham a dizer]


Rio, outubro de 2012