aos setenta de minha vida
que não sei se acaba ou começou
a esquina (imaginária) intacta
onde não olham
os que passam continua lá
no subterrâneo de minha memória
não há surpresa
diante da turba móvel
(a passar)
diante de olhos cegos de tanto ver
a multidão dos que ignoram
a ilusão de tudo
tenta a sorte que não lhes bate à porta
não por falta de imaginação
(pausa)
a exclusão é a regra
entre as mãos a baqueta
dos fatos esgarça
palavras entre os dedos
ouço-as
(surdo)
impalpáveis ao vento
dormi anos em "staccato"
a fantasia de existir
não me faz mal
(entretanto)
a dança de viver
que não se cala
e canta
é véspera de carnaval
Rio, fevereiro de 2013