não sei mas não descanso do sonho
nem desperto nem no sono
e não me furto de viver o mundo
há nisso paz e meu tormento
obra incompleta de meu Feitor divino
não sou outro sou eu mesmo
e tenho um nome
que ninguém pergunta
nem me responde
nesse tributo que se Lhe pagam
meus sentidos
se de humano um sentimento
levo comigo
na sombra em movimento
de mim comigo
será o outro a quem cantar
viveu comigo
nada é confuso tudo é claro
que o uso dos sentidos
me mostrava
do aqui e do agora
desse viver que me enriquece
enquanto a distância do meu ontem
em nada me enganava
essa noite anunciada em que sonhava
intuição do que se foi
na ilusão de meus sentidos
era o desejo de olhar
o percebido
alguém dizia da poesia
necessidade
divagação do fio a conduzir o tanto
que ouso tentar
do valor da vida
em projeções de meu futuro no passado
incompreendido
mas não sofrido
e tudo vejo no pensar que a vida dá
sobre o mar e sobre a pedra
do outro em quem me fixo
e como alma me dedico
nessa vida só corpórea
porque o ver é já memória
do que ontem foi história
do presente entre nós
que aqui há
nem amor nem desejo nem inveja
nem o ciúme corroído
podem negar o já vivido
ah em lugar do pensamento já perdido
nenhuma sombra me deslumbra
nem a voz nem o ruído
do meu olvido
só o presente me alumbra
improvável doce engano
da voz ouvida
sem jamais ser entendida
ah o desengano da partida
ah a percepção de despedida
ah feliz canção
do que foi razão de ser razão
transformada em coração
em fim de vida
chego ignorado ao meu destino
sem me de mim apiedar
ficam brasas
a brilhar
atravessando o tempo
sem tempo
desse saber sempre divino
desconcertado
com o fim de tudo
só por mim apercebido
Rio, dezembro de 2009