sábado, 19 de dezembro de 2009

UM CANTO






não sei mas não descanso do sonho

nem desperto nem no sono

e não me furto de viver o mundo

há nisso paz e meu tormento

obra incompleta de meu Feitor divino

não sou outro sou eu mesmo

e tenho um nome

que ninguém pergunta

nem me responde

nesse tributo que se Lhe pagam

meus sentidos

se de humano um sentimento

levo comigo

na sombra em movimento

de mim comigo

será o outro a quem cantar

viveu comigo

nada é confuso tudo é claro

que o uso dos sentidos

me mostrava

do aqui e do agora

desse viver que me enriquece

enquanto a distância do meu ontem

em nada me enganava

essa noite anunciada em que sonhava

intuição do que se foi

na ilusão de meus sentidos

era o desejo de olhar

o percebido


alguém dizia da poesia

necessidade


divagação do fio a conduzir o tanto

que ouso tentar

do valor da vida

em projeções de meu futuro no passado

incompreendido

mas não sofrido

e tudo vejo no pensar que a vida dá

sobre o mar e sobre a pedra

do outro em quem me fixo

e como alma me dedico

nessa vida só corpórea

porque o ver é já memória

do que ontem foi história

do presente entre nós

que aqui há

nem amor nem desejo nem inveja

nem o ciúme corroído

podem negar o já vivido

ah em lugar do pensamento já perdido

nenhuma sombra me deslumbra

nem a voz nem o ruído

do meu olvido

só o presente me alumbra

improvável doce engano

da voz ouvida

sem jamais ser entendida

ah o desengano da partida

ah a percepção de despedida

ah feliz canção

do que foi razão de ser razão

transformada em coração

em fim de vida

chego ignorado ao meu destino

sem me de mim apiedar

ficam brasas

a brilhar

atravessando o tempo

sem tempo

desse saber sempre divino

desconcertado

com o fim de tudo

só por mim apercebido

Rio, dezembro de 2009



CORES








nem é cor o azul
é amor
e o verde da esperança?


Rio, dezembro de 2009