domingo, 18 de junho de 2017

CÃO DE LATA AO RABO


                                                                               Minha primeira aventura na poesia, 
publicada   em "A Comarca",  
de Araçatuba (em 1956), 
tinha eu 15 anos. Enxertei 
um texto (2017) do que resultou 
essa combinação explicativa. 


não contarei minha história
mas era um cão com lata ao rabo
a ganir

o que vem

depois pode ser um poema
ou não
mas desse começo guardo o grito
contra a lata no rabo do cão
que não é fato usual
nem natural

 será um poema
não sei
(2017)
*** 


Escrever? Nem pensei,
mas senti.
Será deixar o cão arrastar a lata
e ganir?
Alguém amarrou a lata
e o cão em desespero correu
e cá estou a ganir .
É um eco a imagem
que estilhaça o marfim
janelas caladas
cortinas fechadas
nem um relance de olhar"
(1956)

Araçatuba,1956; Rio, 2017

sábado, 17 de junho de 2017

RUÍNAS


cantei o amor cantei vida
cantei tristeza e alegria
cantei o vento e a brisa
cantei tédio e calmaria

cantei o que não tem causa
cantei o jovem e o velho
cantei mágoa
cantei o passar rápido do rio

o tempo passa a hora dói
ir e voltar e nada encontrar
tudo é vácuo e vazio
ao parar no meio do caminho

não conheço o que sei
nada sei
meu castelo ruiu
no sonho bom que sonhei

tempo estranho sem estrelas no céu
nuvens raras tempestades
um turbilhão só de meu
em meio a um jogo de azar

já não canto
choro
a história se desfez
mas desejo ignorar

escadas sempre descendo
sou ateu

subir graus de ironia
é o que tenho de meu

Rio de Janeiro, junho de 2017

sexta-feira, 16 de junho de 2017

HESITAÇÃO




a eterna busca do porto
linha final 
tudo concertado
para um navegar preciso

nada disso é possível
no esticar longo da vida
onde o que não se pensa
não sei donde vem
impreciso
feliz
dolorido
reenviando ao fim

a vida flui e reflui
não cria modelos
não define regras
nem é só exterior
bem não é interior 
acontece
irreprimível
diurna e noturna
pode ir e voltar
não tem meio de caminho
nem fim
tudo é começo

Rio de Janeiro, junho de 2017