terça-feira, 16 de junho de 2009

DESCONSOLO




silêncio é manhã
pensamentos tardios
vida tardia
vejo-a fugir

como o pássaro sobre o mar
vôa na direção da natureza
seu vôo não tem sentido
para [quem sabe?]
fazer todo o sentido

o horizonte é vazio
existo poeta na véspera de não ser mais
o que amo nem sei

vivo o desconsolo do descompasso com o tempo
terá havido um caminho...
cheguei?

temo terminar o poema
sem mais suspirar
assim
deixo-o à própria sorte
entre o beijo e a lágrima
as palavras tem suas leis
que me escravizam a formas
como todas as outras
à gaivota no mar

o pensamento voa virtual
sem matéria
torrencial

talvez ame a vida
se amar é o que penso
amo o acaso aleatório
amo o desconforto da noite
e o mistério do dia

madura a estreita perspectiva do futuro
cria a memória do que está por vir
o pássaro talvez explique
todo o sentido
ou o nenhum sentido desse vôo

desconsolo inconsolável de perder o tempo humano
de ver reduzir-se o espaço
e alargar o fosso de minha separação
porque amo não sei

poeticamente
amo porque te amo
porque te amo não sei

Rio, junho de 2009