quinta-feira, 28 de julho de 2011

A VIDA RETOMADA







quando o amor se revela
o sol aquece o dia
brilha sobre a pedra
faz prata de ondas sinuosas


palavras se tornam música
ao som de baterias
a soar o rumor sensual do mundo


o amor renasce 
em corpos nacarados
que se desnudam bem amados
sob olhares cobiçosos


desceu dos céus a graça
nas praias deste Rio

Rio, julho de 2011.



quarta-feira, 27 de julho de 2011

MATINAS









a luz do sol sobre o azul
era um calor quase frio
e as ondas grisalhas
rolavam mansamente lá


esse dia [como cada dia] 
é promessa 
que se repete
até o sol afogar-se em chamas
à sombra dos Dois Irmãos


fluindo o tempo
vêm os sonhos
a voar em plena manhã
se houver vento


de minha janela vejo
céu e mar 
o que sinto parte
nas asas de uma gaivota

Rio, julho de 2010.



sábado, 23 de julho de 2011

"VAGA HISTÓRIA COMEZINHA" [1]



triste o tempo
que como nuvem passa
e nos engana ao parecer ficar


era eu pequeno e alimentava sonhos
que ventos desfaziam
em nuvens brancas a se movimentar


mas sonhos ficam e as nuvens vão
e nada esqueço da magia de os fazer reais


aos quinze anos conheci o amor
e o amei como à beira-mar
ainda hoje sinto-me amar


aos vinte anos já estavas lá
a me dizer tranquila 
espera
o que tem que ser será


entre os vinte e trinta 
e-xas-pe-ra-da-men-te desejei
o caminho do saber
em busca da razão de ser


duvidei do sonho
para viver o instinto 
distanciando o amor e a razão
falsas escolhas que o tempo fez passar


tudo foi sonho 
pois tempo houve de abrir janelas
deixar entrar o ar 
e a verdade 
uma de cada vez 


ah que saudade tenho 
de todos os enganos e todas as certezas
de toda perda e de todo ganho
que afinal me diziam tudo
sem mo revelar


deixo o passado resguardado à sombra
para saber o que de bom me trouxe
e tudo o mais a não reviver


ah que saudade dos meus vinte anos


a velha mangueira ainda está lá
acariciando a lua 
contando estrelas
desse tempo enigma que nunca decifrei




Rio, julho de 2011.




[1] Frase de Fernando Pessoa:
"...Vaga história comezinha
que, pela voz das vozes, era minha...
Quem sou eu? Eles sabem e passaram..." [n.608; 1928]

MEUS VINTE ANOS



ah se eu pudesse voltar aos vinte anos
e de novo vir sentir o mundo
retomaria todo meu caminho
e da juventude guardaria o tempo


foi tanta coisa que pude viver
tanta alegria que me descobri
me lembro hoje do primeiro livro
e de valiosos outros que encantado li


ah meus vinte anos de sentimentos puros
quando desejar era poder ser
e todos sonhos capazes de viver
faz tanto tempo...


nada lamento do tempo que perdi
a perguntar-me que Homem ser
pois foi graças aos meus vinte anos 
que hoje sei quanto importante é ser


Rio, julho de 2011.



sexta-feira, 22 de julho de 2011

AUTOR POEMA LEITOR





é o poeta que faz da palavra música
mas só no sonho encontra a perfeição
para tornar a poesia ave


é dentro de ti poeta que a poesia brota
é em tua alma que o poema mora
é no seu vôo que a palavra alcança
o leitor sensível 


o poema é ave




Rio, julho de 2011.



quinta-feira, 21 de julho de 2011

ORAÇÃO A UM AMIGO



a um amigo
invoca teus deuses a matemática o cálculo
a física dos sólidos
finca pé na geologia afirma tua engenharia
conhece o mundo
ora por nós no sonho irrealizado
abre as portas da tua casa
deixa entrar o amor a doçura e a esperança
recebe a lealdade vive da verdade
constrói tua vida com a matéria de teus sonhos
delimita a estrada esquece as sombras do passado
repudia ações equivocadas mata as conseqüências vis
vive a plenitude do caráter
trabalha a identidade
repousa na inteligência produz no teu trabalho 
medita diante da incerteza
e avança
que a vida tua quer dizer vitória
que o futuro é teu
e a luz brilha no que fazes consciente
e se demora

que a beleza é fonte de alegria
mora na alma aberta e livre
de tua natureza...


Rio, julho de 2011.



quarta-feira, 20 de julho de 2011

AMIGOS



não são muitos meus amigos
um a um conto nos dedos
deles espero lealdade
a carinhosa verdade
respeito mútuo 
e a valiosa amizade
só assim 
um amigo vale a pena


qualquer um não é amigo
amigo não se improvisa
um qualquer é um qualquer
que se encontra nas esquinas


o que no amigo o faz amigo
é atenção é gentileza
é caráter e equilíbrio
é a mão carinhosa que socorre
sustenta  promove e afaga


a amizade  é adesão em liberdade


amigo se comemora cada dia
nos cuidados e dedicação
ter um amigo é privilégio
por isso abraço meus amigos 
hoje e amanhã
e consciente 
tentarei guardar por toda a vida
os bons amigos
assim mais abraços lhes darei


Rio, 20 de julho de 2011.









terça-feira, 19 de julho de 2011

O QUE É O AMOR







há tanta coisa que não sei
do dia-a-dia não da alma humana
é tanto relativamente
que saber o que sei é não saber


mas da alma se eu pudesse ouvir
o mínimo som do irracional
entenderia o mundo
reforçaria consciente minha fé


o amor é porque acontece
diz o bardo enfarado
dessa bruma escura
que entretanto canta porque não esquece


mas o amor não é o dia-a-dia
racional reto burocrático
mais parece instinto e animal
nem é claro nem é mesmo prático


que se quer amar é certo
que dele fala o coração
então alma esse dom incerto
é desejo por vezes boa ação


nem animal nem nada racional
ele aparece
alegre tantas vezes
surpreendente quando é só tristão


o que move quem ama me pergunto
que trilha é essa que nos leva
de lugar algum a nenhum lugar
e mesmo assim vivemos de amar?


te amo ouço de quem não quer amar
te espero digo sem me recusar
te afastes pede com distante olhar  
fique ordena aqui quero ficar


tudo quanto sei é que não sei
e hoje não creio saberei


Rio, julho de 2011.



sábado, 16 de julho de 2011

HESITAÇÃO







passos
vou devagar porque hesito
à beira da corrente
que outros vem 
enquanto tudo cessa de repente


sou o fim divergente entre o que sou e o que pensa
flutuo o tempo
esqueço 
não sou mais quem fui
mas permaneço como verbo no presente


quem vai
não é quem pensa
apenas vai fisicamente
a alma fica
resistindo ao tempo



mas vens e para ti aperto o passo
e faço versos



Rio, julho de 2011.



ONDE NASCE O POEMA



...à poeta que procura seus caminhos...


entre mim e a palavra
há os lábios
silentes
no deserto das idéias


os lábios são um lugar furtivo
onde não medra
flor nenhuma
se não vem do coração


mas no sonho que liberta 
a palavra floresce 
são idéias e um poema
lá sentido aqui vertido
em versos como flores
nascidas no coração




Rio, julho de 2011.



A LIBERDADE DE SONHAR


a cada novo dia um novo tempo
uma janela que se abre para o sonho
e nessa realidade abstrata
medito sobre as duas vidas
a que tive e a que me resta

navegam barcos
cores pontilhando o mar
até perderem-se no horizonte
fiéis ao desconhecido que os espera
a contemplar o azul onde flutua a ave
sem indicar para onde vão

há terra atrás 
onde gente vive a música da vida
praias de desembarcar do sonho
onde o mar se desprende da grandeza
e se descabela grisalho para o fim

no alto são montanhas
densa mata onde não há morte
e o sonho é verdadeiro
balizado pelo tempo
entre ser desde o início ao curto fim

descubro que da planície a falsa morte
descabelada e grisalha salta ave
e vôa sua faina branca no azul do céu
e natural se torna para quem navega o horizonte
antes ou depois das terras altas
onde cantam poetas os seus cantos 
sobre ramos frágeis pousados na alegria

quanto fui outro na vida que passou
fui ave
que do alto viu distante lá em baixo o horizonte
linha que aos poucos se aproxima
e ave ultrapasso flutuante o meu limite
para ver atrás o alto de meus dias
mas capaz de retomar o sonho
que à frente se anuncia.

sinto a felicidade do que fui
confiante sobrevôo o mar imenso
sem destino
sigo os barcos
em busca do sonho que me resta
feliz 
ave
porque sou capaz ainda de voar
leve a liberdade de escolher
o caminho largo onde tanto amar

Rio, julho de 2011.



quinta-feira, 14 de julho de 2011

DOIS


tu sabes o que é beleza
sabes bem que tua alegria encanta
és natureza 
nada te substitui

como a nascente não dispensa água
como a torrente acarinha pedras
como o rio busca o seu mar
só a ti tenho para amar

como se fosses toda a vida toda
tu me vês por dentro
mas não perguntes
escuta
o coração que bate novo
e diz - te - amo

bem sabes que de ti quero a verdade
tu que em minha vida entras
e uma vez dentro
que importa o que vai lá fora?

concordamos discordamos
somos dois
mas tu "sabes que é tudo amor" [1]


Rio, julho de 2011.


[1] José Regio, Lírica


NYDIA BONETTI

para Nydia Bonetti

nasci para morrer
e não estou só nesse mistério
mas sozinho estou dentro de mim

os que vieram antes testemunham
que "isto é nem morrer de vez
nem também sentir-me vivo" [1]

mas assim é tudo
na mesma história que se repete
o que me enleia é claridade cada dia

digo-te sem medo
está na poesia nossa alegria
deixa-te estar poeta
canta

Rio, julho de 2011.


[1] José Régio, lírica

PAIXÕES







vivo de paixões que não sei amores
ressuscito a cada passo
o fogo que fustiga
para queimar-me açoites


fico mudo nem uma frase digo
enquanto o coração antigo renovado
anseia corpos sensualmente vivos
e impotente grita - amo


quero dizer-te tudo que sinto
mas para isso devo sentir-me vivo
e tu comigo


com que palavras terei a tua graça
com que olhos as transmitirei
se o fogo da paixão me cega


Rio, julho de 2011.



AMAR O AMOR [MEUS DIAS]





em minha vida longa amei
o sol o mar e a gente
de quem livre me aproximei
em trilhas e em todos os caminhos
para sentir onde passei
a nenhum deles perguntei
de onde vinha porque passava
ao mesmo tempo pela mesma estrada


tenho de memória os meus amigos
os permanentes e os episódicos
e deles todos a alegria
de os ter tido ou de os haver amado
guardo a imagem
e já sem ela falta tudo
em minha descoberta
de cada face de cada mundo


o cheiro da mata em que me iniciei
perfumes cores ramos flores
ainda estão dentro de mim
não esqueci o mundo
onde lúcido atento apaixonado
a mim mesmo aos poucos descobri


foi-se o tempo entre lembranças
vem o dia em que agora teço
palavras como se beijos
fossem abraços quentes e carícias
sem medo de dizer que estou aqui


e nessa faina amo 
colho flores onde há por vezes dores
sinto o mar 
revolto plácido na imensidão que tem
para entregar cada dia
e sonho às noites
estar poeta sonhador
a amar perdidamente o amor 




Rio, julho de 2011,



segunda-feira, 11 de julho de 2011

FLUÊNCIA





é como se fosse a luz da manhã
quando o sol revela o azul do céu
sobre o imenso verde mar


é um renascer
repetindo o ritual de cada dia
música e melodia


a claridade abre a alma
para a verdade    
sem ruído
ouve quem a quer ouvir


a palavra nasce nos meus lábios
do fundo do passado
para lembrar o sentimento de saudade
dos tempo idos
no presente a fluir incontinente
nessa torrente
da vida que é música e poesia


nada faço
canto




Rio, julho de 2011.



domingo, 10 de julho de 2011

VERDADE E ILUSÀO









existo e significativamente penso
mas nem sempre é assim
quando o sonho ameaça chegar ao fim
e lá fora faz frio e bate o vento


mas pensar é um instinto
que se revela em neurônios e sinapses
difícil de entender


assim escrevo versos sem nem mesmo pensar
escrevo mas não serão lidos
escritos ficarão


verdade ou ilusão?


Rio, julho de 2011.



sábado, 9 de julho de 2011

O SONHO DE VIVER





o mistério da morte só existe enquanto vivo
cessará quando a indesejada chegar
porque discutí-lo portanto
se vivo não me ameaça o encanto
do que tenho por viver


vivo tocado pelo vento
sudoeste sudeste noroeste
o meu anjo é meu sonho
nuvem desejos meu fado


quimeras serão vãs 
que importa?
fazem sentido meus dias
afagam-me como a brisa do vento
que passa tal ilusão


caminho vou caminhando
levo comigo o mistério
de minha razão de viver
mas vivo e canto
o prazer de ser livre 
ser


e cantando vou caminhando
canta coração




Rio, julho de 2011.



GAIVOTA





meu dia começa com a visão do largo mar
imenso plácido suave

desejo ser ave
para livre voar

não me impede a gravidade sonhar
sou gaivota
vivo a liberdade de amar

Rio, julho de 2011






VOA CORAÇÃO







voa coração
conquista no espaço aberto
o desejo de teu bem


Rio, julho de 2011.



O SILÊNCIO DA SAUDADE







de repente faz-se silêncio
quem me dera que as palavras o dissessem
tal como o olhar lúcido inquieto
reproduz o som abstrato
mudo e profundo


quem me dera fosse eu capaz de escrever
o silêncio surdo de um amor
verdadeiro como a estrela
que só no firmamento busca
um outro sol


fosse o silêncio a tua ausência eu entenderia
que nosso amor se acende
no espaço da mais pura fantasia
mas assim não é
e o silêncio ah o silêncio prenuncia
o denso encontro
na saudade que sinto 
qual estrela em busca de seu sol




Rio, julho de 2011.





TEU MUNDO MEU MUNDO





desde que te amo 
sou melhor sou mais feliz
e por ser assim poeta
sou humano
dotado de alma e razão


neste sonho sou quem sou
só a beleza me guia
só o amor me anuncia


respiro o ar da manhã
teu hálito rente a tua boca
é claridade é dia


só existe agora o desejo
de teu mundo
junto dentro do meu 


Rio, julho de 2011.



sexta-feira, 8 de julho de 2011

PALAVRAS...







a noite vem com o frio
anunciando o gelo de nenhuma descoberta
que estranho usar palavras
para dizer diante de tudo
que ouvir passar o vento
é o escuro que me resta
onde não morro
mas desapareço




Rio, julho de 2011



domingo, 3 de julho de 2011

ASSÉDIO IMPRÓPRIO





por que ainda não Te revelastes
deixando à sombra instinto e intuição?
tens a soberba de saber todos os caminhos
ou tens os caminhos a Tua disposição?


não importa qualquer resposta que me dês
mas o que vejo em Ti
sem que Te reveles
se não são respostas indicações serão


ilimitada é Tua força
inefável presença
indesejável
mas há limites no que sou


é desigual
como futuro e eternidade
o tempo que não medes
e aquele que me dás


escrevo como quem fala
mas canto e-xas-pe-ra-da-men-te
que morrer será viver


será?


a visão das coisas alcançáveis
difere da intuição que não alcanço
talvez
talvez me falte o tempo
que Te sobra


quem Te mandou fazer essa visita
enganou-se
o endereço é outro
outra a Tua lida


nada perdi tudo vivi
mal começa o novo tempo
na janela que abri


no que vivo há de tudo
desde o mar infindo que me cerca
ao amar finito do que sinto
coração valente
só porque em sombras te cobriram
meu entendimento e consciência se abriram


mas não falo ao coração nem canto


vento que conduz meu pensamento
acorda-me
para que resista a quem me ameaça
a liberdade de existir
para sentir a vida cá na terra
e amar o amor que ainda tenho


quanto a Ti
anda 
continua Tua ceifa
há multidões a Teu dispor
deixa-me
quero o tempo de gozar o amor 
os meus iguais
o ar puro
o mar infindo
a terra próspera
a natureza
e o tempo que além brilha




Rio, julho de 2011





QUERER BEM









estou aprendendo a deixar-me ser eu mesmo
o humano amor respeito entendimento
e a paz de espírito com a experiência do mundo


curso o caminho que leva a toda parte
mas escolho a companhia
e decido a cada passo meu destino
sempre seguido da Esperança


amo gente e vivo personalidades não ilusórias
voltadas para o real e a luz serena
do amor que acontece rebelde às formas
surpreendente


nao nutro minha vida de disputas
contento-me em ser quem sou
sem títulos sem passado mas experiente
a ensinar a quem pouco sabe
e tem a angústia de crescer
o nada que aprendi




passa por mim o vento
leve brisa às vezes que dá vida
ao vôo longo e ao inefável eco
dos fatos que vivi


deles me liberto mas espalho o sêmem do saber
cuja caridade é infinita
e a gente desprovida ansiosa de o ter


busco o eterno que hei de encontrar em vida
nas linhas e entrelinhas cá da terra
um dia partirei sem dizer nada
ficarão palavras de fé na gente simples
e a lembrança de um velho amante
do que lhes faltava
do que era premente


alguns maliciosos pensarão
ter explorado o velho
mal sabem saberão
que a vida entrou-lhes sem pedir licença
e seus gestos e falas transformaram


serei feliz de ser lembrado
difusamente
como alguém que te quis bem


Rio, julho de 2011.