sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

VERDADE-MENTIRA



é outro que fala
não é comigo
tudo que digo

há uma chave
com fechadura
diria Borges
escrevo de caradura

se eu viver
nada é verdade
na minha idade
podes crer

Rio, janeiro de 2015.




domingo, 25 de janeiro de 2015

IMPROVISO




tenho tempo ainda para a primavera
quero viver 
sentir ar fresco
das manhãs de outros

ousarei o sonho alado
de saltar a noite e não descer a escarpa
quando muito pouco me ofereces 
tenho tempo para rever o que já fomos

anônimo farei segunda voz
se ouvires o meu canto
tenho tempo para abandonar o pranto

eu e tu abandonados sós
entoaremos todo nosso encanto 
teremos tempo para sermos nós

Rio, janeiro de 2015.


HOROWITZ-CHOPIN



enamorado da leveza 
Horowitz e suas mãos
enquanto toca Chopin
o amor desponta
e encanta

presente deslizam notas como um sopro
e tudo é ouvir e sonhar
quem não somos
mas sentimos

Rio, janeiro de 2015


sábado, 24 de janeiro de 2015

NOTTURNO



[ao som de Chopin, Noturno Opus 9 número 2]

hoje a paz é tão triste
saudosa da noite que se foi
onde esperança falta
do que não se conhece
do que não se esquece
à luz da consciência baça

o sentimento noturno
é suave no mistério que me abraça
e o som de um piano insiste
em mi bemol maior 
silencioso e triste   

Rio, janeiro de 2015



DO REI QUE NÃO FUI



por quem vivo bem sei
em meu pensamento
onde há paz e conflito
em sombra do que é 
na imaginação suspensa por convicção

estou sossegado no tempo
tudo podia ter sido
antes da chuva depois do vento
para matar-me na esperança
de um amor que morre e renasce 
nisso que é verde e azul 
valeu a pena e não desata

pouco importam as nuvens 
que se movem e não deixam rastros
uma onda
que incendeia à hora do crepúsculo
e sim morre
morre desta vez e fala ao céu
da solidão do amor e seus descaminhos

já tenho saudade
da mulher que tenho
dos filhos e netos que fiz
da gente que incógnito fui eu
saudade do sentimento estrangeiro
do amor e do esquecimento
saudade de onde passei 
do tempo que passado ventou
do mar que imenso se abriu

não não esqueço
deles na curva da esquina
da vontade nem sem razão
de tudo de todos de um que foi outro que amei
do rei que nunca serei

tudo no destino é olvido
do que hoje é mistério
em palavras de um mero poema

Rio, janeiro de 2015

sábado, 10 de janeiro de 2015

SANGUE E POEMA





se o sangue vem antes ou depois
o po-ema não dirá
porque ele quer ser apenas um poema
ético po-ético
que desde sua concepção
sozinho vive
e sozinho quietará

Rio, 10 de janeiro de 2015