"Porém, pera cantar de vosso gesto a composição alta e milagrosa, aqui falta saber, engenho e arte." Luís de Camões ... assim encontrareis aqui palavras magoadas a tornar o fogo frio e dar descanso a minha alma condenada ...
domingo, 29 de outubro de 2017
SONS
marejar de ir e voltar
renúncia de tudo
alongada aceitação
síntese
em sons lânguidos do mar
nesse bulício distante da noite que cai
amar crer desacreditar não ver
mas sentir e lembrar
no ritmo dos sons
alegrias e tristezas de anos atrás
ouço o eco altivo do tempo vivido
do que poderia ter sido
de tudo que sonhei
o marejar hesitante à sombra da noite
traz o passado e olvida o futuro
mas acalma e faz meditar
o horizonte fundiu-se na escuridão
Rio de Janeiro, outubro de 2017
sábado, 14 de outubro de 2017
HOJE
...para contrariar Álvaro de Campos...
por quê não hoje
se o sol brilha
e o verão me acalenta o coração
o momento é agora
que a tristeza se foi
e nada me dói
o entardecer vem com e a brisa fria do mar
e me penetrará
depois só sombras me encobrirão
por quê deixar livre o tempo
que não volta mais
caminhar é preciso
agora
à frente sempre à frente
para sentir o tempo corrente
e o sonho ser meu
viver é não fingir a hora imaginária
fazer a história viva
a luz e todo o brilho que traz
há-de ser hoje
por entre a brisa e o vento
e a saudade atual
de nada deixar passar
por quê não hoje
que ouço bater o coração
e sinto o pulsar do desejo
e a força que a alma tem
sim
há-de ser hoje
e não depois de amanhã
Rio de Janeiro, outubro de 2017.
terça-feira, 10 de outubro de 2017
INSISTENTE SOLIDÃO
o que mata é a solidão
não a solidão de estar só
mas a solidão da alma
não a solidão de estar só
mas a solidão da alma
não sou triste
basta o sol
para me fazer sorrir
basta o sol
para me fazer sorrir
mas o sorriso é um adeus
que pesa em mim
na longa espera
arrastada e sombria
de um momento que não sei
distante interrogo-me
bastante como um pesadelo
ou como um sonho que se perde
e não deixa rastro
nem é meu
que pesa em mim
na longa espera
arrastada e sombria
de um momento que não sei
distante interrogo-me
bastante como um pesadelo
ou como um sonho que se perde
e não deixa rastro
nem é meu
a inutilidade dói
nesse tempo sem tristezas
à espreita apenas
do indesejado evento
tão próximo quanto distante
nesse tempo sem tristezas
à espreita apenas
do indesejado evento
tão próximo quanto distante
resta a memória da vida vivida
sonhada e esquecida
pois não volta mais
sonhada e esquecida
pois não volta mais
a natureza é assim
nada do que passou é meu
apenas passou por mim
nada do que passou é meu
apenas passou por mim
foi um tempo bom
de que me lembro e não vejo mais
tempo pleno provado sentido
da esperança viva
da construção do futuro
hoje apenas sombra
uma incerteza
de que me lembro e não vejo mais
tempo pleno provado sentido
da esperança viva
da construção do futuro
hoje apenas sombra
uma incerteza
a vida entretanto não exige certezas
mas a imagem de Pasárgada
a cidade sonhada
mas a imagem de Pasárgada
a cidade sonhada
embora a estrela do poema luzindo
a vida é vazia
nada acontece exceto o sonho
de um passado ausente no presente
isso é insistente solidão
a vida é vazia
nada acontece exceto o sonho
de um passado ausente no presente
isso é insistente solidão
Rio de Janeiro, outubro de 2017.
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