segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

FALSO DILEMA



à direita à esquerda 
vejo as brumas do passado
repetição e drama

sinto o tempo
permanência em mim
e sei que dezenove não difere de vinte
mas aproxima o fim

ser e viver o mundo são meu verso
em meio à desigualdade e medo
diante daquele que diverge
do natural  

amar é modo de sobreviver  
em terra ou na imensidão do mar
aos setenta e nove
renascido 
celebro ainda a liberdade

olhando para a frente
nasce outra criança
chora mas aprende a sorrir
para a novidade do mundo
livre

escrevo estes versos para superar o trauma
ao longe o mar é mais azul
e o horizonte deseja o sol

Rio de Janeiro, 30 de dezembro de 2019.



segunda-feira, 19 de agosto de 2019

AMAZÔNIA


Uma reflexão necessária:
19 de agosto de 2019

Sobre a Amazônia brasileira o problema que se está criando é menos o maior desmatamento recente e muito mais a desinteligência do que esse mundo verde representa como símbolo de brasilidade e fonte de produção na biodiversidade que agasalha. 
A Amazônia brasileira é nossa, mas parece que não se sabe de sua potencial influência sobre o clima no Brasil e no mundo. Nem é o aquecimento global, que se pode discutir, mas sem a Amazônia o sudeste e o o sul do Brasil receberiam menos chuva e se tornariam áridos; o solo amazônico é raso e, depois do desmatamento, suportará pouco tempo e se tornará ou uma savana inóspita ou um areal sem qualquer possibilidade de recuperação; seus rios secarão ou se tornarão fios d'água...
Para o mundo, a Amazônia e as últimas florestas na África e na Ásia têm sim importância climática e provavelmente serão responsáveis, no desmatamento, por um aumento da temperatura global, uma mudança no regime de ventos e uma elevação consequente do nível dos mares... para dizer pouco.
O Planeta terra não suportará a sobrecarga que essas mazelas representam e com ele sucumbirá a raça humana.
Há-que considerar consequências imediatas de um excessivo nacional-populismo (em forma mais branda, um tal sentimento nacional, mas dispensando o populismo, é desejável) que destrua instituições duramente construídas nos últimos tempos (dos quais participei) e desconsidere dados produzidos por modernas instituições científicas.Há que considerar preocupações humanitário-culturais incluídas nos cuidados com indígenas e escravos-negros históricos em pequenas aglomerações quase simbólicas.
Há que considerar nossa imagem no mundo, que condiciona interesses comerciais, empresariais e de investimento tão necessários.
A política amazônica deve ser nacional e da Amazônia sempre cuidaremos nós, mas sem agressões ou retaliação contra países tradicionalmente amigos, com os quais temos interesses compartilhados. Não há porque tratar mal o mundo, que é também o nosso mundo.

sexta-feira, 26 de julho de 2019

PALAVRAS SOLTAS





eu nunca sei
se o que escrevo
foi o que pensei

nem mesmo leio

não explicarei
o que sinto
neste desterro indevido
de sobreviver em mim mesmo

quem somos
logo
não seremos mais

estar só é uma percepção
nevoenta

tudo foi fátuo
no erro de gostar do que não tinha
hoje apenas memória sonolenta

sem jamais ter sido
o que procurei
encontrei
o indefinível de existir

o Poeta diz
"comigo fui sem ver nem recordar" (FPessoa)

Rio de Janeiro, julho de 2018

quarta-feira, 10 de julho de 2019

ESPERANÇA




não me consome o tempo
mas avisa por vezes que existe
e imperceptível o instante
passa

não reconheço o fim
que tudo estranho não comove
sei que não tarda
e assim fico nesta grade estreita
a aguardar a hora

esvai-se a segurança com o vento
socorre-me a esperança
incansável sentimento
que ultrapassa o automático momento

Rio de Janeiro, julho de 2019.


sábado, 22 de junho de 2019

DIVAGAÇÃO




nem sei porque deixei de cantar os sonhos

erro?
desencanto?
não 
não é esse o caminho

o contínuo do tempo não mudou
nem rompeu a madrugada um sol sem luz
no mar indecifrável sempre o horizonte impera
no céu de azul intenso velejam nuvens 
derramam-se na areia as ondas sossegadas
e as flores vicejam coloridas na encosta sempre verde  

o destino é o mesmo
e o amor não ignora que vivemos

sucumbi ao tempo que implacável passa

talvez
como o sol que anuncia o dia e acaba em noite
alheio ao fado
invencível na rotação que nos varia a hora 

ontem já se foi
o amanhã ainda não existe
e hoje me confesso 

ignoro por que perdi o verso
e já não canto como outrora
apenas vivo 
enquanto o tempo me conduz à indesejável hora

Rio de Janeiro, junho de 2019.




sábado, 30 de março de 2019

NADA



tenho saudades de tudo
"que inda que mágoa
é vida"

tudo passou
pouco ficou 
apenas passou

aquilo que foi
ou o que poderia ter sido
não foi
o que será

nada posso
do que deverá ser 
mas tenho saudade
do que possa ser

saudade por acontecer

tempo 
lembrança do que restou
por viver

o dia
o momento
diz o Poeta "domina ou cala" 

tudo é nada


[entre aspas, Pessoa]

Rio de Janeiro, março de 2019

domingo, 17 de fevereiro de 2019

PENSANDO NA VIDA



Mariana hoje
Lucas logo depois 


Canto a vida porque me deu tudo
um filho uma filha
quatro netos incríveis
não preciso recordar
vivo dessa união
que não dispensa a mãe
peça central
nada me nega
nem mesmo o que não peço
e vou navegando
nesse rio do tempo
antes de chegar ao mar
nesse barco nunca à deriva
fevereiro é festa
do 17 hoje ao 29
que será primeiro de março
comemoro minha filha e meu neto
para mim eternas praias
onde descanso no amor
esse sentimento imperecível de vida

Rio de Janeiro, 17 de fevereiro de 2019

domingo, 10 de fevereiro de 2019

FLAMENGO


meninos

palavras escondem o que dizem
revelam o que pensamos
mas que nem sempre sentimos

cada passo é diferente
magia do ir e vir
por isso vale a pena gritar
palavra que não quero ouvir
ouço-a muito bem
mas esqueço de sentir
quando vai
menos de quando vem

na liberdade o poeta
o sol canta bem cedo
e acaba à tarde em noite
para a palavra não basta virar a página
difícil será esquecê-la

o sol desponta cada manhã

assim a tristeza hoje
disfarça a buliçosa alegria
dos que pouco atrás
ante-ontem
presentes ainda nos deram

Rio de Janeiro, fevereiro de 2019.