perplexo não digo qualquer palavra
digo entretanto uma palavra qualquer
que me sai dos lábios
e se escreve em letras
surpreendendo-me na liberdade
que não tenho livre
qualquer palavra não me desperta
uma palavra qualquer instiga-me
porque foi dita
e foi escrita
como numa fuga sem toccata antes
essa palavra é ilusória
parece que me pertence
mas está no ar
não a leiam sem compromisso
que elas comprometem
muito menos quem a disse
do que o leitor que a recebeu
entendam-na se puderem
o que não posso eu
Rio, maio de 2012.
muitas vezes dobrado no finito
não me dobrarei no infinito
um são meses dias horas
outro minha natureza
essa é minha razão
nenhuma desilusão
assim fui
e contudo sou o que me tornei
a caminho de onde não sei
entendo que não terminarei
Rio, maio de 2012.
ao teu lado estremecia
porque sentia
que nada tivesse para te dar
era verdade
mas não o que queria
e me castigava
a distância nunca foi estar longe
mas ausente
ainda assim te amava
Rio, maio de 2012.
...ama que também te amo
sonha que sonharei...
Rio, maio de 2012.
poeta é muito chato
só pensa que escrever poesia
extensa inútil passageira
enche a vida
mas não enche não
Rio, maio de 2012.
ih amor você tá tão resfriado
melhor não me beijar
obrigado
Rio maio de 2012.
o sono não vinha
a noite acabava
levantou
foi ao computador e dormiu
Rio, maio de 2012.
queria tanto
tanto queria
que um dia deixou de querer
e chorou
Rio, maio de 2012
definitivamente estava apaixonado
arrastava-se como uma lagartixa
aos pés do ser amado
um dia bateu horror
Rio, maio de 2012.
a fama chegou e arrasou
a alegria que se via
na dança que ele dançava
enquanto ensaiava a letra de uma canção
no fim tudo era vão
Rio, maio de 2012.
então ele disse que a amava
assim como se ama em baixo de uma jaqueira
esperando a jaca despencar
feito um limão
pra tudo ser azedo
como manda o coração
foi quando ela disse que isso não era nada
apenas um resfriado
Rio, maio de 2012.