quinta-feira, 29 de setembro de 2011

PARA ONDE COMO PORQUE ?



[inspirado no poeta Kabir 
- 1398, Benares, Índia] 


para que horizonte conduzes  tua vida
não há caminhos à frente
nem mesmo um rio para conduzir águas
a um destino conhecido
para que horizonte 
se serpenteias
para que caminho 
se não há
qual teu destino?



como não escolhestes a sombra
na opção entre o aconchego e o sol
como deixastes que teus lábios
já não falassem uma palavra de amor
como abandonastes a ti próprio
e escolhestes a distância e a insegurança
como deixar- te queimar?



porque vives tua solidão
tão perdidos os sentidos
porque não acendes a lâmpada
que trazes contigo desde que nascestes
porque se tens a consciência aberta
porque só?


volta a teu lugar
retorna a ti e ao que és
retoma a vida onde a deixastes
nada resta a não ser distorções
e a ingrata ilusão...




Rio, setembro de 2011.





terça-feira, 27 de setembro de 2011

VAGA VIDA





perguntas sem respostas
perplexidade são 
complexas
simples em garrafas
tontas em ondas do mar


frio nem parece coração
refrigerado no "freezer"
da alma encarcerada
noite e dia apaixonada
sem objeto ou razão


feliz quem sorri
não por alegria
mas por nostalgia
de um tempo bom
que passou


primavera primavera
tenho por timidez
de descrever no outono
frutos descaídos
breve duros 
que gelados ficarão


a primavera passou
mas amar é destino
consciência desatino
no outono
de confiar em ninguém


assim de perguntas sem respostas
vive o amor no temor de ser flor
sem perfume
da primavera que longe ficou


vaga vida 
fria já quase muda
no "freezer" de meus poemas
que sem começo
não têm mais fim


Rio, setembro de 2011.





segunda-feira, 26 de setembro de 2011

NOS RECANTOS DE MEU SER








um cansaço esquisito toma conta de mim
de ser e não poder ser
o que apenas pensei
ser o que sempre fui


andei por anos disfarçado
em roupas engalanado
mas pensei que o meu eu
era forte bastante para ser meu


enganei-me não era
mas em todo caso erguia a bandeira
de meu país 


aqui estou já vencendo o tempo passado
querendo viver o que fui em tempos remotos 
um homem comum sem preconceitos
para gostar de gente
não importa se pobre ou rica 
pessoas a quem posso amar
para lhes dar o que em mim me sobrou


nem inveja nem ciúme nem ódio
nada sinto ao viver
o homem simples que sou
tudo tenho tudo ganhei
e sou feliz de saber que ainda terei
o que nem procurei


amo a vida minha gente  meu mundo
amo mulher filhos meus netos
amo desconhecidos
no vasto mundo perdidos
guardo um modelo do caos
na alegria desse rastro lunar
de claridade e paz
d"os recantos de meu ser" [1]


Rio, setembro de 2011.


 [1] Carlos Drummond de Andrade



UM MUSEU





a porta de Kafka nem abriu
e o inseto passou
sem chave foi ver outro lado
e tudo que viu detestou


nem amor viu
horrendo ninguém o quis


'eu te amo' 
não ouviu
quem pode amar um inseto
ainda que vida
na forma de inseto


viu o lobishomem
o homem mesmo
era o mundo
de frente costas e perfil


é tempo parece 
de partir deste museu


Rio, setembro de 2011.







ERA ISSO?



nem é curta a vida
nem longa pode ser
pois ser humano cansa 
até mesmo de viver


a China fica distante
acho isso muito bem
tem lá tanta gente
e trilhões pra especular


esse imenso poder
muda minha cartilha  
pode mover a moeda
pra ganhar guerra comercial


aqui a Copa do Mundo
toma espaço nos jornais
diz que o Maracanã
nem pronto estará no final


o desastre anunciado é formal
é grotesco triste talvez
no país do futebol


a gente virou egoísta
cada um cuida do seu
nem se importa com o outro
que apenas sobreviveu


no cenário industrial
é melancólico
ver pessoas discutindo
o ovo de botar em pé


e o ambiente cortado pelo meio
meio está meio ficará


cansa a vida cansa de tanto viver
nada restará nem mesmo o nome
do que já fiz ou farei
sou sobrevivente de não me saber explicar


Era isso
chego mesmo perto do fim
e nem liberdade terei
paranoico
vigiado até o fim


'não estou mais na idade
de sofrer por essas coisas...' [1]


pergunto
há idade de sofrer 
ou é esse o nome de viver


era isso?

Rio, setembro de 2010.


[1] Carlos Drummond de Andrade


O TEMPO



meu tempo hoje é qualquer tempo
tempo de escrever
tempo de ler 
tempo de pesquisar
tempo de meditar
até tempo de amar


o tempo que me enriquece
a cada dia entristece
porque me afaga
na despedida
de quem se vai ao passar


todo tempo é tempo 
tempo de bem viver
tempo de reconhecer
que curto é o meu tempo
nesse tempo de viver


o tempo não me resta
o tempo foge 
afasta-se de mim
desde a hora de nascer
até chegar ao fim
na hora de morrer


se o tempo passa
eu fico
e não me mortifico
porque o tempo tem de passar
e eu o terei na eternidade de amar


Rio, setembro de 2011.



domingo, 25 de setembro de 2011

O AMOR





‎"A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca e que, esquivando-nos do sofrimento, perdemos também a felicidade."
Carlos Drummond de Andrade 

e tento seguir o poeta, escrevendo:

...um dia descobrimos que temos tudo e nem fizemos por recebê-lo, mas tivemos amor dos pais, da família, da mulher companheira, da compreensão afetuosa de amigos, da educação para a vida. Na verdade não sofremos, pois o amor veio como dádiva. Mais que receber o amor é dom, é entrega no momento preciso. Assim, o amor  é a atenção, é o gesto, é a capacidade de não o matar por egoismo...

Rio, setembro de 2011



quarta-feira, 21 de setembro de 2011

ERA SÓ ISSO?





viver tanto parece tão pouco
nem comecei a sentir o gosto do amanhã
quando ontem está tão próximo


meus 20 anos ainda presentes
foram felizes


recuso-me a partir
recusarei todas as tentações
para esperar o que acontecerá
no futuro que não me seria dado viver


nunca supus amar a vida tanto
descobrir presenças novas 
que ressuscitam prazeres jovens
e renovam percepções


Ana Luiza, Alice, Pedrinho 
Lucas que está por vir
viverão sem mim...


por eles fico
mas sei que pela vida passo
enquanto resisto


viver é muito bom
mas ao chegar a hoje
vejo 


e era só isso...


Rio, setembro de 2011



quinta-feira, 1 de setembro de 2011

NYDIA FAZ ANOS [E POEMAS]







para Nydia que faz anos 
de novo


finjo eu 
fingimos Nydia 
todos neste mesmo lugar 
"onde se pensa ou sente"


não podemos calar
o poema é o que nos resta
neste estranho ofício  teu e meu


no setembro ou no dezembro
são sílabas e letras
fingindo o que fingimos ser


desfiando idéias
por vezes pensamentos
outras sentimentos
o enigma esconde o poema
entre a bruma e o sonho
de um momento 


e voa


meu é o momento
à sombra do pássaro 
que dele é o espaço
o meu é fingimento


Rio, setembro de 2011






NYDIA FAZ ANOS





Para Nydia


finge a vida de infinita
e esvai-se num instante
arde coração 
setembro não é mais nem menos
que o tempo contato no finito
e o que te resta 
Nydia
sílabas e versos
são marcas
de um coração desperto


Rio, setembro de 2011.